«Que significa, hoje, a.C.-d.C.?», padre Héctor Figueira

Que significa, hoje, a.C.-d.C.?

«Morre-se uma vez só» — esconjuramos nós a morte. Jesus foi mais além, «porque, na morte que sofreu, Cristo morreu pra o pecado de uma vez pra sempre; mas a Sua vida é uma vida em Deus» (Rm 6,9).

Em 5.ª-Feira Santa não fingimos que Jesus ainda vai morrer em 6.ª-Feira Santa. Não fazemos ficção mas memória, anamnese. Esta tem oportunos sentidos:

* em geral, a ação de trazer à mente;

* ou, em Medicina, a informação sobre o princípio e evolução de uma doença até à primeira observação do médico (cf. dicionario.priberam.org);

* ou, finalmente, na Missa, a parte da oração eucarística a seguir à consagração, com o valor de memorial e oferecimento do sacrifício de Cristo (cf. sites.ecclesia.pt/catolicopedia).

Em estado de emergência, desapareceram os acontecimentos; permanece o evento: a Páscoa. Fazíamos memória, com os judeus, do êxodo aos primeiros anos trinta depois de Cristo nascer; desde então, celebramos o anual Tríduo Pascal da Sua Paixão, Morte e Ressurreição.

Não! A História não será dividida em «antes da Covid-19» e «depois da Covid-19». Será sempre unida: «antes de Cristo» e «depois de Cristo». O 1.º de todos os dias não se fundirá com o seu fim (de semana). Significando «do Senhor», o Domingo será sempre «Páscoa semanal» ou, na denominação oriental, «pequena Páscoa». A partir de uma qualquer 2.ª-feira, haverá «Páscoa quotidiana», no dizer de Santo Agostinho.

Pra entender toda a Páscoa é preciso contemplar o que é a nossa Páscoa anual, semanal ou diária: a Eucaristia. Na estrada semidesértica, vislumbramos um octógono vermelho; distinguimos nele contorno e «STOP» brancos. É um sinal; o significado é: «paragem obrigatória».

São Paulo transmitiu o que ele mesmo recebeu: a Ceia, nova e eterna Aliança, memorial da morte de Jesus. Semelhante perspetiva nos foi apresentada por São Mateus, São Marcos e São Lucas. Os 4 apontavam o sinal da Eucaristia; São João mostra-lhe o significado: o amor até ao fim, a unidade, o serviço de Jesus em favor dos irmãos. Aquele «fazei isto em memória de Mim» e este «como Eu vos fiz, fazei-o vós também» são o mesmo «mistério da fé pra salvação do mundo»; ao que respondemos: «Glória a Vós que mo­rrestes na cruz e agora viveis pra sempre. Salvador do mundo, salvai-nos. Vinde, Senhor, Jesus». Bem precisamos, sempre.

De 5.ª pra 6.ª-Feira Santa, fazemos memória da prisão e da Ceia do Senhor; de 6.ª pra Sábado Santo, adoramos a Sua cruz; da Vigília prò Domingo de Páscoa, a Sua Ressurreição. Esta é a noite da «diálysis» (dissolução do que é mau) da noite da tristeza, do jejum do desejo, da espera pela Eucaristia do Dia de Páscoa, que, todos os dias, celebraremos.

Até breve.

padre Héctor Figueira
Coordenador do Secretariado Diocesano da Educação Cristã



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