ENC: "A Liturgia é a primeira escola da fé"

Na conferência de abertura do 54º Encontro Nacional da Catequese (ENC) D. José Cordeiro, Bispo de Bragança-Miranda e presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade afirmou aos responsáveis da catequese de todo o país que a “Liturgia é a primeira escola da fé” porquanto introduz “ao mistério da Salvação”. Deste modo, indicou, “não só se educa para a liturgia como a própria liturgia educa a pessoa”.

Na conferência que proferiu hoje o Bispo de Bragança-Miranda começou por refletir a etimologia da palavra ‘Liturgia’ para lembrar que ela é “serviço realizado a favor do povo”. Deste modo a liturgia apresenta-se como “fonte pura e perene de água viva da qual toda a pessoa sedenta pode aurir a voz de Deus”. Ora, “ se a Missa é fonte de onde brota a vida como pode ser considerada uma seca”, questionou.

Neste ponto D. José Cordeiro aproveitou para recordar a importância da “fonte” na tradição cristã e na simbólica popular e lembrou “a fonte da aldeia onde tantos namorados e namoradas construíram a sua relação e casaram”.

Olhando para a atualidade o presidente da presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade afirmou que “para muitos, a liturgia deixou de ser fonte e passou a ser problema que se passou a querer resolver” e disse acreditar que “o futuro do cristianismo na Europa depende muito de o fazer da liturgia a fonte para os crentes”.

Torna-se, pois, necessário “uma refontalização” iniciada no “Concilio Vaticano II” que definiu a necessidade “da formação do clero e do povo” para “liturgia” enquanto “ação da Igreja em que se torna presente Cristo”. Deste modo “o centro da liturgia é a Páscoa de Cristo e celebra o mistério de Cristo como história da salvação”.

Com este olhar sobre a liturgia “percebemos que ela aparece como lugar da catequese por excelência, do encontro da comunidade com o seu sentido e com o seu Senhor” através de um “conjunto de sinais sensíveis eficazes” pelos quais “se exercita o sacerdócio de Cristo”. No fundo, a liturgia é “a fé celebrada nos diversos momentos e, mais, a espiritualidade da Igreja: o vértice e fonte da Igreja. A primeira escola da fé”.

A necessidade de ir às origens

“No Novo Testamento a palavra liturgia é utilizada para o anúncio do Evangelho e a Caridade em ato para além dos ritos”. Assim a liturgia é a “fé da igreja que plasmada nos gestos sacramentais, se torna audível nos cantos e música, nas palavras e nos gestos”. É um envolver-se “no mistério não apenas racionalmente mas pelos sentidos que convocam à ação”. Neste sentido, apontou, não “devemos promover a cultura da lamentação que não nos leva a lado nenhum. É preciso voltar à fonte: À liturgia, aos padres da Igreja, à Palavra de Deus e ao Magistério”. Isto porque a liturgia “é estar à volta do Senhor. Tudo o que refere aos evangelhos. A liturgia é a continuação dos evangelhos”. Necessitamos de a “tornar mais bela, e isso só acontece se a redescobrirmos”, apontou.

A importância da formação

Para D. José Cordeiro “a formação litúrgica é de capital importância” nos dias de hoje: “Precisamos de uma liturgia séria. Inteligível, capaz de narrar a perene aliança de Deus com os homens. Simples e bela. Com mistério e inteligibilidade. Num equilíbrio entre a palavra, o silêncio e o sacramento”. É, pois, urgente “compreender e apreender em intimidade o sentido das suas propostas como afirmado no nº59 da Sacrosanctum Concilium”.

Formação e fidelidade ao Mistério celebrado

Na sua intervenção o Bispo de Bragança-Miranda destacou a importância de uma formação séria nesta área alertando, no entanto, para o facto de “nenhuma aula de Teologia Litúrgica substituir a experiência”, assim como “nenhuma sessão de Catequese pode substituir a ação litúrgica”. Deste modo é necessário estar atento e conhecer “as normas litúrgicas” enquanto “educação para a participação no Mistério” de modo a não se cair “numa animação litúrgica” que “não torna Cristo presente”. Se “Cristo não está presente na ação litúrgica corremos o risco de fazer ‘palhaçadas’”, alertou.

Assim torna-se importante formar os crentes para “os ritos e para os símbolos” procurando promover “uma mistagogia litúrgica” sem esquecer que “não celebramos outra coisa senão a fé da Igreja”.

O desafio do invisível

Na parte final da sua intervenção o presidente da Comissão Episcopal da Liturgia e Espiritualidade afirmou que “a liturgia é o desafio de ver o invisível. É ver com os olhos da fé! É um esforço de ver para além do pão, do vinho, do padre, dos leigos, do azeite…ir em busca dos significados”. Assim a liturgia remete para o mistério celebrado “através das orações e dos gestos”. Não se trata apenas de “uma dimensão funcional mas simbólica que nos remete para lá do que se vê. Para lá dos sinais sensíveis”. Neste ponto tomou a Exortação Evangelii Gaudium, do Papa Francisco, para citar: “Celebrar é entrar e fazer entrar no mistério, num espirito de oração”. A liturgia pode, assim, “converter-se numa escola da fé e oração; na primeira escola da educação da fé”, e recordou: “a liturgia apoia-se em três pontos: escuta da palavra, visão da Glória e experiência do Mistério” do qual toma parte toda a “comunidade Cristã” enquanto “Corpo de Cristo”.

ENC continua amanhã em Castelo-Branco

O 54º Encontro Nacional da Catequese continua amanhã, dia 25 de março com a conferência “O que é e como se vive uma Educação para a Liturgia” que será trazida pelo Cónego Luís Manuel Pereira da Silva do Patriarcado de Lisboa.

Da parte da tarde os responsáveis da catequese vão estar reunidos em pequenos grupos de reflexão e análise do itinerário catequético na adolescência.

Acompanhe os trabalhos através da presença da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé no facebook e no twitter.



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