«Pandemia pode ajudar a redescobrir a família como Igreja doméstica, Padre Mário Sousa

Biblista considera fundamental recuperar a família enquanto lugar da transmissão da fé

O padre Mário Sousa, biblista da Diocese do Algarve, afirmou ontem, que “o anúncio da fé mais do que conteúdos, conhecimentos ou experiências oculares, é sobretudo um testemunho existência do evangelho acolhido e experimentado na primeira pessoa”.

Na conferência «“Anuncia na tua família quanto o Senhor te fez” (Mc 5, 19) a palavra de Deus testemunhada e celebrada em família», integrada no 43º Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica que decorre online, o presidente da Associação Bíblica Portuguesa, e coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia, sustentou que a pandemia pode ser uma oportunidade de se recuperar o sentido e a identidade do ser família “na igreja primitiva”, identificada não apenas pelos laços de sanguem mas como “uma comunidade gerada pelo espírito a partir da vida nova de Cristo”.

“Já não se trata de uma família, mas de cristãos que vivem em família e que alargam esta vivência àquilo que chamamos Igreja”, disse.

Partindo do trecho do evangelho de Marcos em que Jesus realiza um exorcismo a um homem “que já não se conseguia identificar pelo seu nome”, o padre Mário Sousa apresentou a cura “como um caminho de libertação, uma luta demorada” em que “o homem, após ser salvo, não quer deixar Jesus porque a salvação, em primeira pessoa, provoca gratidão”.

Considerando que o Evangelho apresenta “dois tipos de discipulado” o especialista bíblico sustentou que “é em família que encontramos o modo ‘normal’ de ser discípulo”.

“No Evangelho encontramos dois tipos de discipulado: Os itinerantes e os que permanecendo no seu lugar são desafiados a dar testemunho. Este tipo de discipulado é o normal de viver o seguimento de Jesus”.

Para o coordenador da Comissão da Tradução da Bíblia “a casa tem, na experiência inicial da igreja, um lugar fundamental” pois é nela “que Jesus corrige e orienta os seus discípulos”, fazendo com que a família seja entendida “como aqueles que, convertidos, estão unidos a Jesus”.

Assim “o lugar primeiro do testemunho da fé é a casa, a família e os que fazem parte do círculo familiar, não como lugar de transmissão de doutrina, mas como testemunho da fé, reforçou.

“Infelizmente olhámos para o testemunho da fé como uma doutrina e assim tratámos a catequese durante muito tempo”.

Para o biblista “a fé não é um conjunto de ideias, senão era uma ideologia ou um conjunto de princípios éticos". A fé, "fruto do encontro com Jesus, cria no coração do que se sente salvo e amado um sentimento e uma atitude existencial de gratidão e louvor e o desejo que muitos outros possam fazer esta experiência”.

Num tempo de pandemia, em que a celebração comunitária da eucaristia presencial está, novamente, interrompida, o padre Mário Sousa considera que ser fundamental perceber que nas famílias, “mais do que educar na fé, há-de ser a fé, transmitida pelo testemunho, a educar, a configurar os valores e tudo aquilo do que a vida é tecida”.

“Não há melhor educação na fé do que esta. A liturgia familiar é espaço de memória do que o senhor fez, por todos, quer na própria vida pessoal e familiar. O testemunho dos pais que fazem memória orante conduz à ação de graças, ao louvor pela fidelidade e à confiança de quem sabe que o senhor não falha”, considerou.

Às famílias, recolhidas em casa em virtude da situação pandémica, o sacerdote da Diocese do Algarve, convidou a redescobrir “a oração familiar” como um “espaço de escuta”, onde o Senhor “vem e ilumina a vida da família e de cada um de nós”, através da “releitura da Palavra de Deus, na Lectio Divina, que se realiza à mesa de cada lar”.

O 43º Encontro Diocesano de Pastoral Litúrgica da Diocese de Viana do Castelo termina amanhã, sexta-feira, com a intervenção do Cardeal Tolentino Mendonça, que apresenta o tema «Liturgia e comunidade perante novos desafios» 

Educris|28.01.2021



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