Fátima: Sem peregrinos, mas do «tamanho do Mundo»

Mil velas recordaram vítimas do Covid-19 em Portugal. Início das celebrações marcado por um «lava-pés» inédito.

O cardeal D. António Marto havia pedido uma “peregrinação do coração” ao anunciar “a mais dolorosa de todas as Peregrinações em mais de 100 anos de história.

“Esta é a peregrinação mais difícil na vida deste Santuário, porventura a mais interpeladora", disse aos jornalistas ao final da tarde desta quinta-feira.

Recusando comparações com o 1º de maio o ‘cardeal de Fátima’ mostrou-se emocionado e chamou a atenção para “o agravamento na vida pessoal, social, laboral, económica e financeira” das pessoas no pós covid-19.

D. António Marto assumiu a decisão de não abrir aos peregrinos a Peregrinação Aniversária de maio porque “a salvação chega-nos pelo outro, pelo respeito e pela responsabilidade de cada um. Todos somos interdependentes”, não queria ficar com “o peso na consciência” de ter sido responsável pela disseminação do vírus.

“Hoje o Santuário será do tamanho do Mundo”, afirmou.

Um Manto de Luz em todo o país

Noite em Fátima. Ao contrário de tantas outras peregrinações não existem aglomerações, gente a dormir nas colunatas, ou ‘pagadores de promessa. Não se vem vendedores ambulantes nem restaurante abertos. O Silêncio é a nota num recinto pontuado por velas que evocam as 21 dioceses portuguesas e os mais de mil mortos provocados por esta pandemia silenciosa.

No início da celebração, na capelinha das aparições, o padre José Nuno Silva, dá o mote aos milhões que acompanham as cerimónias através dos órgãos de comunicação social.

“Nesta noite não sejais espetadores mas peregrinos do coração”, convidou o responsável pela Pastoral do Santuário.

Na celebração da palavra, que se seguiu ao terço e à tradicional procissão de velas pelo recinto vazio, os peregrinos de Fátima voltaram a estar no centro da cerimónia.

“Sim, estais aqui todos, com a luz e o calor acesos da fé que enche os vossos corações”, disse o D. António Marto, o cardeal de Fátima.

Na noite em que lembrou “os que mais sofrem e continuam a sofrer com a pandemia e os que mais lutaram e lutam pela saúde de todos”, D. António Marto trouxe à oração “os defuntos e seus familiares, os doentes, a todos os profissionais de saúde, aos cuidadores, idosos, pobres, famílias, sacerdotes, trabalhadores da proteção civil, dos transportes, limpeza, alimentação e outros que não se pouparam a sacrifícios, como bons samaritanos”.

O ‘Cardeal de Fátima’ lembrou o apelo deixado por Maria na Cova da Iria convidou todos à oração do terço:

“Tendo meditado os mistérios dolorosos, unimo-nos a toda a humanidade sofredora, evocada na leitura do profeta Isaías; confiámos as suas dores e todos os sofredores ao coração materno de Maria; pedimos-lhe que leve a todos a ternura e o conforto para superar esta provação como na sua visita a Isabel e que também nós, com toda a nossa solidariedade, sejamos testemunhas de que “o Senhor salva os corações atribulados.”

 

Lava-pés lembra peregrinos

O final da celebração da Palavra ficou marcada por mais um gesto simbólico. D. António Marto, acompanhado por dois servitas, lavou os pés a três peregrinos, em representação dos milhões que s fizeram próximos nesta peculiar peregrinação.

“Com este sinal, o Santuário de Fátima honra-vos e quer dizer que vos espera em nome da mãe, como uma mãe espera a visita dos filhos à sua casa”, explicou o comentador da celebração.

Amanhã, a Peregrinação prossegue com a oração do Rosário, às 9h00, na Capelinha das Aparições, seguindo-se, às 10h00, a Missa da Solenidade de Nossa Senhora de Fátima, presidida pelo cardeal D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima. As celebrações desta primeira Peregrinação Internacional Aniversária de 2020 terminam com a Procissão do Adeus.

Imagem: Santuário de Fátima

Educris|12.05.2020

 



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