Congo: padre denuncia «silêncio cúmplice» sobre o conflito
12 mortos, dezenas de feridos e mais de uma centena de detidos. As manifestações que ocorreram no último dia de 2017na República Democrática do Congo ainda estão a provocar reações fortes por parte da Igreja Católica naquele país africano.
O padre Apollinaire Cibaka Cikongo, professor no Seminário de Cristo Rei em Malole, na província de Kasai Central, aponta o dedo à comunidade internacional afirmando haver “um silêncio cúmplice” face à onda de repressão governamental que está a atingir também a Igreja, que tem estado na linha da frente nas exigências por eleições livres e o fim da liderança do país por Joseph Kabila, cujo mandato presidencial expirou em 20 de Dezembro de 2016.
As manifestações de 31 de Dezembro mobilizaram a comunidade católica e, apesar do seu carácter pacífico, provocaram uma reacção violenta por parte das autoridades que efetuaram disparos contra a multidão. As forças da polícia chegaram a invadir igrejas na capital, Kinshasa, enquanto perseguiam manifestantes, tendo inclusive utilizado gás lacrimogéneo dentro dos templos.
Em declarações à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) o sacedorte deixou acusações tanto ao exército como às forças da ordem de terem agido com uma violência desproporcionada e desnecessária perante os fiéis:
"O exército e a polícia dispararem em paroquianos durante a Santa Missa, quando estavam prestes a participarem na marcha pacífica organizada pelo Comité de Coordenação de Leigos, liderado por alguns dos professores universitários católicos", denunciou.
O envolvimento da Igreja nestas manifestações é assumido pelo professor do Seminário de Cristo Rei em Malole, por ser “a instituição com mais credibilidade” na República Democrática do Congo. Essa visibilidade faz com que a Igreja esteja, também, na opinião deste sacerdote, “na linha de fogo”.
O padre Apollinaire acusa alguns países, nomeadamente “grandes poderes como a India e a China”, assim como “multinacionais, em troca do controle sobre os recursos mineiros do país”, de serem cúmplices de Joseph Kabila, ajudando-o a manter-se no poder apesar de o seu mandato presidencial ter expirado em Dezembro de 2016.
De qualquer forma, a resolução do problema político existente neste país africano tem de passar, explica o padre Apollinaire, pelo envolvimento activo da comunidade internacional. “A pressão interna contra o poder dominante não é suficiente”, afirma o sacerdote. “Há também que haver pressões externas.”