Audiência-geral: «Ser manso para herdar o Céu», Papa Francisco

Na manhã de quarta-feira o Papa Francisco retomou as catequeses sobre as «bem-Aventuranças» na Sala Paulo VI, no Vaticano. Na sua reflexão Francisco afirmou que «os mansos» são os que «percebem que a sua herança está no céu» e procuram «restabelecer a paz com os seus irmãos.

Leia, na íntegra e em português, a catequese do Papa Francisco.

Catequese sobre as bem-aventuranças: 4. Bem-aventurados os mansos

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na catequese de hoje, colocamo-nos diante da terceira das oito bem-aventuranças do evangelho de Mateus: «Felizes os mansos, porque eles herdarão a terra[1]» (Mt 5, 5).

O termo "manso" aqui usado significa literalmente doce, cordeiro, gentil, livre de violência. A mansidão manifesta-se nos momentos de conflito, vê-se no modo como se reage perante uma situação hostil.  Alguém pode aparentar ser manso quando tudo está calmo, mas como reage “sob pressão” quando é atacado, ofendido, agredido?

Numa passagem, São Paulo recorda «a doçura e a mansidão de Cristo» (2 Cor 10, 1). E São Pedro, por sua vez, lembra a atitude de Jesus na Paixão: ele não respondeu e não ameaçou, porque se «confiou àquele que julga com justiça» (1 Pd 2,23). A mansidão de Jesus vê-se fortemente presente na sua Paixão.

Nas Escrituras, a palavra "manso" também indica alguém que não possui terras; e, portanto, ficamos impressionados com o facto de que a terceira bem-aventurança diga precisamente que os mansos "herdarão a terra".

Na verdade, esta bem-aventurança cita o Salmo 37, que ouvimos no início da catequese. Também ali estão relacionadas a brandura e a posse da terra. Estas duas coisas, quando se pensa nisto, parecem incompatíveis. De facto, a posse de terra é um âmbito de típico conflito: muitas vezes lutamos por um território, para obter a hegemonia sobre uma determinada área. Nas guerras, os mais fortes prevalecem e conquistam outras terras.

Mas olhemos atentamente para o verbo usado e que indica a posse de mansos: esses não conquistam a terra; não diz "bem-aventurados os mansos, porque conquistarão a terra". Eles "herdam-na”. Bem-aventurados os mansos porque eles "herdarão" a terra. Nas escrituras, o verbo "herdar" tem um sentido mais profundo. O povo de Deus chama “herança” à a terra de Israel, porque ela é a Terra da Promessa.

Aquela terra é uma promessa e um dom para o povo de Deus, tornando-se um sinal de algo muito maior que um simples território. Há uma "terra" – permiti-me o jogo de palavras - que é o Céu, isto é, a terra para a qual caminhamos: os novos céus e a nova terra para a qual vamos (cf. Is 65,17; 66,22; 2 Pt 3,13; Ap 21,1).

Deste modo o manso é aquele que “herda” o mais sublime dos territórios. Não é um cobarde, um “fraco” que se contenta com uma moral improvisada para ficar fora dos problemas. Muito longe disto! É uma pessoa que recebeu uma herança e não deseja perder. O manso não é uma pessoa acomodada, mas é o discípulo de Cristo que aprendeu a defender uma outra terra. Ele defende a sua paz, defende o seu relacionamento com Deus, defende os seus dons, os dons de Deus, preservando a misericórdia, a irmandade, a confiança, a esperança. Porque as pessoas mansas são misericordiosas, fraternas, confiantes e pessoas com esperança.

Aqui devemos mencionar o pecado da raiva, um movimento violento cujo impulso todos conhecemos. Quem é que nunca ficou com raiva em alguma altura? Todos. Devemos recuperar a bem-aventurança e fazer uma pergunta: quantas coisas destruímos com raiva? Quantas coisas perdemos? Um momento de raiva pode destruir muitas coisas; perde-se o controlo e não se avalia o que é realmente importante podendo arruinar-se o relacionamento com um irmão, às vezes sem remédio. Com a raiva, muitos irmãos deixam de se falar, afastam-se uns dos outros. É o oposto da mansidão. A mansidão junta, a ira aparta.

A mansidão conquista muitas coisas. A mansidão é capaz de conquistar o coração, salvando amizades e muito mais, porque as pessoas podem ficar com raiva, mas pouco a pouco acalmam-se, repensam refazem os seus passos, e assim podem ser reconstruídas com mansidão.

A "terra" a ser conquistada com brandura é a salvação daquele irmão de quem o Evangelho de Mateus fala: «Se te ouvir, ganhaste o teu irmão»[2] (Mt 18:15). Não há terra mais bonita que o coração dos outros, não há território mais bonito a ser conquistado do que a paz reencontrada com um irmão. E esta é a terra a ser herdada com mansidão!



[1] Tradução oficial da Conferência Episcopal Portuguesa

[2] Idem

 

Tradução Educris a partir do original em italiano

20.02.2020



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