Audiência-geral: «os leigos dão o húmus ao crescimento da fé»

Na manhã desta quarta-feira o Papa Francisco continuou a sua reflexão sobre o livro dos Atos dos Apóstolos. Na catequese 19 Francisco condenou "quem hoje volta a perseguir os judeus" e apontou os leigos e as famílias cristãs como o "húmus" de onde cresce a fé.

Leia, na íntegra, a alocução do Papa Francisco.

Catequese sobre os Atos dos Apóstolos - 16. «Priscila e Áquila, que o tinham ouvido, tomaram-no consigo» (Atos 18:26). Um casal a serviço do Evangelho

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Esta audiência é realizada em dois grupos: os doentes estão no salão Paulo VI - estive com eles, cumprimentei-os e abençoei-os; serão mais ou menos 250. Lá estarão mais confortáveis ??perante a chuva - e nós aqui. Mas eles vêem-nos pelos ecrãs gigantes. Saudemo-nos mutuamente com aplausos.

Os Atos dos Apóstolos narram que Paulo, como incansável evangelizador que ele é, após a estadia em Atenas, continua o percurso do evangelho no mundo. A nova etapa da sua viagem missionária é Corinto, capital da província romana da Acaia, uma cidade comercial e cosmopolita, graças à presença de dois portos importantes.

Como lemos no capítulo 18 de Atos, Paulo experimenta a hospitalidade de um casal, Áquila e Priscila (ou Prisca), forçados a mudar-se de Roma para Corinto depois do imperador Cláudio ter ordenado a expulsão dos judeus (cfr At 18, 2). Eu gostaria de fazer um parêntese. O povo judeu sofreu muito na história. Ele foi expulso, perseguido ... E, no século passado, vimos tantas brutalidades que foram feitas com o povo judeu e todos estávamos convencidos de que isto tinha terminado. Hoje, porém, o hábito de perseguir judeus começa a renascer aqui e ali. Irmãos e irmãs, isto não é humano nem cristão. Os Judeus são nossos irmãos! E eles não devem ser perseguidos. Perceberam? Estes cônjuges provam ter um coração cheio de fé em Deus e generoso para com os outros, capaz de abrir espaço para aqueles que, como eles, experimentam a condição de estrangeiro. Esta sua sensibilidade leva-os a descentrarem-se para praticar a arte cristã da hospitalidade (cfr Rm 12, 13; Hb 13,2) e abrir as portas da sua casa a receber o apóstolo Paulo. Assim acolhem não apenas o evangelizador, mas também a proclamação que ele traz consigo: o Evangelho de Cristo, que é «o poder de Deus para a salvação de quem crê» (Rm 1,16). E a partir deste momento, o seu lar é imbuído da fragrância da Palavra «viva» (Hb 4:12) que vivifica os corações.

Áquila e Priscila também compartilham a atividade profissional com Paulo, que é a construção de tendas. Paulo, de facto, valorizou muito o trabalho manual e considerou-o um espaço privilegiado do testemunho cristão (cfr 1 Cor 4:12), e um modo justo para se manter sem ser um fardo para os outros (cfr 1 Ts 2, 9; 2 Ts 3, 8) para a comunidade.

A casa de Áquila e Priscila em Corinto abre as suas portas não apenas para o apóstolo, mas também para os irmãos e irmãs em Cristo. De facto Paulo pode falar da ‘comunidade que se reúne na sua casa» (1Cor 16,19), que se torna uma "casa da Igreja", uma «domus ecclesiae», um lugar para ouvir a Palavra de Deus e celebrar a Eucaristia. Ainda hoje em alguns países onde não há liberdade religiosa nem liberdade para os cristãos, os cristãos reúnem-se num lar, por vezes escondido, para rezar e celebrar a Eucaristia. Ainda hoje existem estas casas, estas famílias que se tornam um templo para a Eucaristia.

Depois de um ano e meio em Corinto, Paulo deixa a cidade com Áquila e Priscila, que permanecem em Éfeso. Ali também o lar deles se torna um local de catequese (cfr Atos 18,26). Finalmente, os dois cônjuges retornarão a Roma e receberão um esplêndido elogio que o apóstolo insere na carta aos romanos. O seu coração estava agradecido, e assim Paulo escreveu sobre estes dois cônjuges na carta aos romanos. Vede: «Saudai Priscila e Áquila, meus colaboradores em Cristo Jesus, 4pessoas que, pela minha vida, expuseram a sua cabeça. Não sou apenas eu a estar-lhes agradecido, mas todas as igrejas dos gentios. 5Saudai também a igreja que se reúne em casa deles.» (16,4). Quantas famílias em tempos de perseguição arriscam as suas cabeças para manter escondidos os perseguidos! Este é o primeiro exemplo: hospitalidade familiar, mesmo em tempos difíceis.

Entre os muitos colaboradores de Paulo, Áquila e Priscila emergem como «modelos de vida conjugal responsavelmente comprometidos com o serviço de toda a comunidade cristã» e lembram-nos que, graças à fé e ao compromisso com a evangelização de tantos leigos como eles, o cristianismo chegou até nós. De facto, «a fim de criar raízes na terra do povo, desenvolver-se fortemente, era necessário o comprometimento destas famílias. Mas pensai que desde o início o cristianismo foi pregado pelos leigos. Também vós, os leigos, sois responsáveis, pelo vosso batismo, de levar adiante a fé. Foi o compromisso de muitas famílias, destas esposas, destas comunidades cristãs, de fiéis leigos que ofereceram o "húmus" ao crescimento da fé» (Bento XVI, Catequese, 7 de fevereiro de 2007). Esta bela frase do Papa Bento XVI é linda: os leigos dão o húmus ao crescimento da fé.

Perguntemos ao Pai, que escolheu fazer dos cônjuges a sua a verdadeira «escultura» viva (Exortação Apostólica Amoris Laetitia, 11) - Creio que aqui existem novos cônjuges: escutai a vossa vocação, que deve ser lá verdadeira escultura viva -  para derramar o seu Espírito sobre todos os casais cristãos, para que, seguindo o exemplo de Áquila e Priscila, possam abrir as portas dos seus corações a Cristo e aos seus irmãos e transformar os seus lares em igrejas domésticas. Bela palavra: uma casa é uma igreja doméstica, onde viver a comunhão e oferecer o culto à vida vivida com fé, esperança e caridade. Devemos orar a estes dois santos, Áquila e Priscila, para que ensinem as nossas famílias a serem como eles: uma igreja doméstica onde existe húmus, para que a fé cresça.



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