Audiência-Geral: «Doentes são o lugar da ternura de Deus»

Na manhã deta quarta-feira o Papa Francisco deu continuidade à série de catequeses sobre o livro dos Atos dos Apóstolos. Na sua reflexão o papa apresentou o papel do apóstolo Pedro enquanto testemunha que "transparecia a figura do próprio Jesus" e lembrou a importância do "cuidado pelos mais fracos e doentes" como "lugar teológico" da presença de Jesus.

Leia, na íntegra, a alocução do Papa Francisco

Catequese sobre os Atos dos Apóstolos: 7. "Quando Pedro passava ..." (Atos 5,15). Pedro, testemunha principal do Ressuscitado

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

A comunidade eclesial descrita no livro de Atos dos Apóstolos vive da tanta riqueza que o Senhor coloca à sua disposição - o Senhor é generoso! -, experimenta um crescimento numérico e grande entusiasmo, apesar dos ataques externos. Para nos mostrar esta vitalidade, Lucas, no Livro de Atos dos Apóstolos, também indica os lugares significativos, por exemplo, o pórtico de Salomão (Cf. Atos 5,12), um local de encontro para os crentes. O pórtico (stoà) é uma galeria aberta que serve como abrigo, mas também como local de encontro e testemunho. Lucas, de facto, insiste nos sinais e nos prodígios que acompanham a palavra dos apóstolos e nos cuidados especiais dos doentes a quem eles se dedicam.

No capítulo 5 dos Atos, a Igreja nascente mostra-se como um "hospital de campanha" que acolhe as pessoas mais fracas, isto é, os doentes. O sofrimento deles atrai os apóstolos, que não possuem "nem prata nem ouro" (Atos 3, 6) - diz Pedro ao aleijado -, mas eles são fortes em nome de Jesus. Aos seus olhos, como aos olhos dos cristãos de todos os tempos, os enfermos são destinatários privilegiados da feliz proclamação do Reino, são irmãos nos quais Cristo está presente de uma maneira particular, para se deixar ser procurado e encontrado por todos nós (Cf. Mt 25, 36.40). Os doentes são privilegiados para a Igreja, para o coração sacerdotal, para todos os fiéis. Eles não devem ser descartados, pelo contrário, devem ser tratados, cuidados: eles são objeto de preocupação cristã.

Dentre os apóstolos, emerge Pedro, que tem destaque no grupo apostólico por causa do primado (Cf. Mt 16, 18) e da missão recebida do Ressuscitado (Cf. Jo 21, 15-17). É ele quem inicia a pregação do kerigma no dia de Pentecostes (Cf. Atos 2, 14-41) e realiza a função diretiva no Concílio de Jerusalém (Cf. Atos 15 e Gl 2, 10-10).

Pedro aproxima-se das macas e passa entre os enfermos, como Jesus fizera, tomando sobre si enfermidades e doenças (Cf. Mt 8,17; Is 53,4). E Pedro, o pescador da Galileia, passa, mas deixa que um Outro se manifeste: deixa o Cristo estar vivo e trabalhando! A testemunha, de facto, é aquele que manifesta Cristo, tanto com as palavras como com a presença corporal, o que lhe permite relacionar-se e ser um prolongamento da Palavra feita carne na história.

Pedro é quem realiza as obras do Mestre (Cf. João 14, 12): olhando-o com fé, vemos o próprio Cristo. Cheio do Espírito do seu Senhor, Pedro passa e, sem fazer nada, a sua sombra torna-se uma "carícia", um curador, uma comunicação de saúde, uma manifestação da ternura do Ressuscitado que se inclina sobre o doente e restaura a vida, a salvação, a dignidade. Desta maneira, Deus manifesta a sua proximidade e faz das pragas dos seus filhos "o lugar teológico da sua ternura" (Meditação matutina, Santa Marta, 14.12.2017). Nas feridas dos doentes, nas doenças que impedem a vida, há sempre a presença de Jesus, a ferida de Jesus. Há Jesus que chama cada um de nós para cuidar deles, apoiá-los, curá-los.

A ação curativa de Pedro suscita o ódio e a inveja dos saduceus, que aprisionam os apóstolos e, chateados com a sua misteriosa libertação, proíbe-os de ensinar. Estas pessoas viram os milagres que os apóstolos não fizeram por mágica, mas em nome de Jesus; mas não queriam aceitar e colocam-nos na prisão, espancan-nos. Eles foram então milagrosamente libertados, mas o coração dos saduceus era tão duro que não quiseram acreditar no que viram. Pedro então responde oferecendo uma chave de leitura para a vida cristã: «Obedecer a Deus em vez de obedecer aos homens» (Atos 5,29), porque eles - os saduceus - diziam: "Vós não deveis andar com estas coisas, não deveis curar” - “Eles obedeciam a Deus antes que aos homens”: é a grande resposta cristã.  Isto significa ouvir a Deus sem reservas, sem adiamentos, sem cálculos; aderir a ele para se tornar capaz de aliança com ele e com quem nos encontramos no nosso caminho.

Também pedimos ao Espírito Santo força para não nos assustarmos diante daqueles que nos mandam ficar calados, nos caluniam e difamam as nossas vidas. Peçamos que ele nos fortaleça interiormente para ter certeza da presença amorosa e consoladora do Senhor ao nosso lado.

Tradução Educris a partir do original em italiano

28.08.2019



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