Audiência-geral - «Abbá» condensa toda a novidade do Evangelho

Na quinta catequese sobre a oração do «Pai-Nosso» o Papa Francisco convidou os fiéis a refletir sobre a expressão «Abbá» afirmando-a como a “grande novidade do Evangelho” porquanto “permite chamar Deus por Pai”. O papa desafiou os crentes a “confiarem nesta expressão” e a dirigirem a sua oração a Deus “invocando-o como Papá ou Paizinho, tal como faz uma criança”.

 Leia, na íntegra, a catequese do Papa Francisco

 Catequeses sobre o "Pai Nosso": 5. "Abbá, Pai!"

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuando as catequeses sobre o "Pai Nosso", hoje partimos da premissa de que, no Novo Testamento, a oração parece querer descer ao básico, para se concentrar numa palavra: Abbá, Pai.

Escutámos o que São Paulo escreve na Carta aos Romanos: «Vós não recebestes um espírito que vos escravize e volte a encher-vos de medo; mas recebestes um Espirito que faz de vós filhos adotivos. É por isso que clamamos: Abbá, ó Pai”» (8,15). E aos Gálatas, o apóstolo diz:« E porque sis filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espirito do seu Filho, que clama: “Abbá – Pai”» (Gal 4,6). Retoma, por duas vezes, a mesma invocação, que condensa toda a novidade do Evangelho. Depois de conhecer Jesus e ouvir a sua pregação, o cristão não considera Deus como um tirano a temer, não sente medo, mas sente florescer no seu coração a confiança Nele: pode falar com o Criador chamando-o de "Pai". A expressão é tão importante para os cristãos, que muitas vezes tem sido preservada na sua forma original: "Abbá".

É raro que, no Novo Testamento, as expressões em aramaico não apareçam traduzidas para o grego. Temos que imaginar que, com estas palavras em aramaico permaneceu como "registada" a voz do próprio Jesus: Respeitaram o idioma de Jesus. Nas primeiras palavras do "Pai Nosso" encontramos imediatamente a novidade radical da oração cristã.

Não se trata apenas de usar um símbolo - neste caso, a figura do pai - para estar ligado ao mistério de Deus; trata-se, por assim dizer, de ter todo o mundo de Jesus derramado no próprio coração. Se percebermos esta operação, podemos orar com a verdade o "Pai Nosso". Dizer "Abbá" é algo muito mais íntimo, mais comovente do que simplesmente chamar Deus de "Pai". É por isto que alguém propôs traduzir esta palavra aramaica original "Abbá", como “Paizinho” ou “Papá”. Em vez de dizer "Pai-nosso", diz "Papá, Paizinho". Nós continuamos a dizer "Pai Nosso", mas com o coração, somos convidados a dizer "Papá", de modo a termos um relacionamento com Deus como o de uma criança com o seu pai, que o chama de "Papá" e diz "Paizinho". Na verdade, estas expressões evocam afeto, evocam o calor, algo que nos impulsiona no contexto da infância: a imagem de uma criança completamente envolvido pelo abraço de um pai que tem infinita ternura por ele. E por isto, queridos irmãos e irmãs, por rezar bem, torna-se necessário ter um coração de criança. Não um coração apenas suficiente: deste modo não se reza bem. Mas como uma criança nos braços do seu pai, do seu papá, do seu paizinho.

Mas são os Evangelhos seguramente que nos introduzem melhor no sentido desta palavra. O que significa para Jesus, esta palavra? O "Pai Nosso" tem sentido e cor se aprendemos a rezar depois de ler, por exemplo, a parábola do Pai misericordioso, no capítulo 15 de Lucas (cf. Lc 15,11-32). Imaginemos esta oração proferida pelo filho pródigo, depois de experimentar o abraço do seu pai, que havia esperado muito tempo, um pai que não se lembra das palavras ofensivas que ele tinha dito, um pai que agora o faz perceber o quanto eles perderam. Então descobrimos como estas palavras ganham vida, como ganham força. E interroguemo-nos: é possível que, Deus, só conheça o amor? Tu não conheces o ódio? Não – responderia Deus - eu só conheço amor. Onde em ti há vingança, a pretensão da justiça, a raiva pela tua honra ferida? E Deus responder-te-á: Só conheço o amor.

O pai desta parábola lembra, nos seus modos de fazer as coisas, muito dos sentimentos de uma mãe. São sobretudo as mães a desculpar os filhos, a dar-lhes cobertura, a não interromper a empatia nos confrontos, a continuar a querer bem, mesmo quando eles não merecem nada.

Basta evocar somente esta expressão – Abbá – para desenvolver uma oração cristã. E São Paulo, nas suas cartas, segue esta mesma estrada, e não poderia ser de outra forma, porque é o caminho ensinado por Jesus: nesta invocação há uma força que atrai todo o resto da oração.

Deus procura-te, mesmo que tu não o procures. Deus ama-te, mesmo que te esqueças Dele. Deus acha-te belo, mesmo que tu penses que desperdiçaste todos os talentos em vão. Deus não só é um pai, é como uma mãe que nunca pára de amar a sua criação. Por outro lado, há uma "gestação" que dura para sempre, bem mais do que os nove meses do físico; É uma gestação que gera um circuito infinito de amor.

Para um cristão, rezar é simplesmente dizer "Abbá", dizer "Papá", dizer "paizinho", dizer "Pai", mas com a confiança de uma criança.

Pode dar-se que aconteça, mesmo a nós, que caminhemos distantes de Deus, como aconteceu com o filho pródigo; ou mesmo cair numa solidão que nos faz sentir abandonados no mundo; ou, novamente, estar errado e ficar paralisado por um sentimento de culpa. Nesses momentos difíceis ainda podemos encontrar a força para orar, a partir da palavra "Pai", mas dize-la com a terna sensação de uma criança: "Abbá", "Papá". Ele não esconderá o seu rosto de nós. Lembremo-nos bem: talvez alguém tenha coisas más dentro de si, coisas que não sabe resolver, muita amargura por ter feito isto e aquilo... Ele não esconderá o seu rosto. Ele não vai fechar-se em silêncio. Tu chama-o "Pai" e Ele responder-te-á. Tu tens um pai. "Sim, mas eu sou um delinquente...". Mas tu tens um pai que te ama! Diz-lhe "pai", e começa a orar assim e, em silêncio, ele diz-nos que nunca nos perdeu de vista. "Mas, Pai, eu fiz isto..." - "Eu nunca te perdi de vista, eu vi tudo. Mas eu sempre estive lá, perto de ti, fiel ao meu amor por ti ". Esta será a resposta. Nunca esqueçais de dizer "Pai". Obrigado.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|17.01.2019



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