Audiência-geral: «Não levantar falsos testemunhos»

Papa Francisco continuou hoje, na praça de São Pedro, no Vaticano, o ciclo de catequeses sobre os 10 mandamentos. 

 

Leia, na íntegra, a catequese do Papa Francisco

Catequese sobre os Mandamentos, 13: "Não levantar falsos testemunhos"

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na catequese de hoje, abordaremos a Oitava Palavra do Decálogo: "Não levantarás falso testemunho contra o teu próximo".

Este mandamento - diz o Catecismo - "proíbe falsificar a verdade nas relações com os outros" (n. 2464). Viver em comunicações não autênticas é grave porque impede as relações e, portanto, impede o amor. Onde há mentira não há amor, não pode haver amor. E quando falamos de comunicação entre pessoas, queremos dizer não apenas palavras, mas também gestos, atitudes, até silêncios e ausências. Uma pessoa fala com tudo o que é e o que faz. Estamos todos em comunicação, sempre. Todos nós vivemos a comunicar e estamos constantemente equilibrados entre a verdade e a falsidade.

Mas o que significa dizer a verdade? O que significa ser honesto? O que é exatamente? Na realidade, isso não basta, porque alguém pode estar sinceramente errado, ou pode-se ser preciso em detalhes, mas não compreender o significado do todo. Por vezes justificamo-nos dizendo: "Mas eu disse o que sentia!" Sim, mas absolutizas-te o teu ponto de vista. Ou: "Eu só contei a verdade!" Talvez seja assim, mas podes ter revelado alguns factos pessoais ou confidenciais. Quanta coscuvilhice destrói a comunhão por causa da sua inadequação ou falta de delicadeza! Mais, a coscuvilhice mata, e isso foi dito pelo apóstolo Tiago na sua carta. O coscuvilheiro, a coscuvilheira são pessoas que matam: matam os outros, porque a língua mata como uma faca. Tende cuidado! Um coscuvilheiro ou uma coscuvilheira é um terrorista, porque com a língua lança a bomba e fica quieto, mas aquilo que diz, a bomba lançada destrói a fama dos outros. Não esqueçais: coscuvilhar é matar.

Mas então: o que é a verdade? Esta é a pergunta feita por Pilatos, justamente enquanto Jesus, diante dele, realizava o oitavo mandamento (cfr Jo 18, 38). De facto, as palavras «não levantar falso testemunho contra o seu próximo» pertencem à linguagem jurídica. Os Evangelhos culminam no relato da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus; e esta é a história de um julgamento, da execução da sentença e de uma consequência inaudita.

Quando perguntado por Pilatos, Jesus diz: «Por isto nasci e para isto vim ao mundo para dar testemunho da verdade» (Jo 18, 37). E este «testemunho» Jesus dá-o com a sua paixão, com a sua morte. O evangelista Marcos narra que «o centurião, que estava diante dele, vendo-o expirar daquele modo, disse: «Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus» (15,39). Sim, porque era consistente, era consistente: com este modo de morrer, Jesus manifesta o Pai, o seu amor misericordioso e fiel.

A verdade encontra a sua plena realização na própria pessoa de Jesus (cf. Jo 14, 6), no seu modo de viver e morrer, fruto da sua relação com o Pai. Esta existência como filhos de Deus, Ele, ressuscitado, dá-a também a nós enviando o Espírito Santo, que é o Espírito da verdade, que atesta ao nosso coração que Deus é nosso Pai (cf. Rm 8, 16).

Em cada uma das suas ações, o homem afirma ou nega esta verdade. Das pequenas situações quotidianas às escolhas mais exigentes. Mas é sempre a mesma lógica: o que os pais e os avós nos ensinam quando nos dizem para não mentir.

Perguntemo-nos: qual a verdade é atestada pelas obras de todos nós, os cristãos, as nossas palavras, as nossas escolhas? Todos podemos perguntar-nos: sou uma testemunha da verdade ou sou mais ou menos um mentiroso disfarçado de homem? Perguntem-se todos. Os cristãos não são homens e mulheres excecionais. Somos, no entanto, filhos do Pai celestial, que é bom e não nos dececiona, e coloca no nosso coração o amor pelos irmãos. Esta verdade não é dita com discursos, é um modo de existir, um modo de vida e é visto em cada ato individual (cf. Gc 2,18). Este homem é um homem de verdade, esta mulher é uma mulher de verdade: vê-se. Mas porquê, se não abre a boca? Mas comporta-se como verdadeiro, como verdadeira.  Diz a verdade, age com a verdade. Um belo modo de viver para nós.

A verdade é a maravilhosa revelação de Deus, sua face de Pai, é o seu amor ilimitado. Esta verdade corresponde à razão humana, mas supera-a infinitamente, porque é um dom que desce sobre a terra e encarna em Cristo crucificado e ressuscitado; torna-se visível para aqueles que a ele pertencem e revelam as suas próprias atitudes.

Não levantar falsos testemunhos significa viver como um filho de Deus, que nunca, nunca se   nega a si mesmo, nunca diz mentiras; viver como filhos de Deus, deixando emergir a grande verdade em todas as ações: que Deus é Pai e podemos confiar Nele, confiar em Deus: essa é a grande verdade. A da nossa confiança em Deus, que é Pai e me ama, nos ama, nasce a minha verdade e o ser verdadeiro e não um mentiroso.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|14.11.2018



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