Ângelus: «Deus está do lado dos mais pobres»

Na alocusão desta manhã, proferida antes da recitação da oração mariana do Ângelus, o Papa Francisco explicou o significado da constante chamada de atenção de Jesus para com os "escribas e fariseus" e recordou o episódio do evangelho do dia apontando a "viúva como a imagem" a seguir pelos cristãos "a fim de ser doação gratuita e humilde a Deus pelos irmãos".

Leia, na íntegra, a meditação do santo Padre.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O episódio do Evangelho de hoje (cf. Mc 12,38-44) fecha a série de lições ensinadas por Jesus no templo de Jerusalém e destaca duas figuras opostas: o escriba, e a viúva. Mas porque são contrapostos? O escriba representa as pessoas importantes, ricas e influentes; a outra - a viúva - representa o último, o pobre, o fraco. Na verdade, o julgamento firme de Jesus para com os escribas não diz respeito a todos que partilham de categoria semelhante, mas refere-se àqueles que entre eles se vangloriam da sua condição social, com o título "rabino", ou seja, mestre, e que gostam de ser reverenciados e ocupar primeiros lugares (cfr vv. 38-39). O que é pior é que a sua ostentação deriva principalmente da natureza religiosa, porque rezam - diz Jesus - «longamente para ser visto» (v 40) e serviam a Deus para se estabelecer como os defensores da sua lei. E esta atitude de superioridade e vaidade leva-os a desprezar aqueles que contam pouco ou os que estão em posição económica desvantajosa, como é o caso das viúvas.

Jesus desmascara este mecanismo perverso: denuncia a opressão do fraco, numa instrumentalização, com base em motivações religiosas, dizendo claramente que Deus está ao lado dos últimos. E para imprimir bem esta lição nas mentes dos discípulos oferece-lhes um exemplo vivo: uma pobre viúva, cuja posição social era irrelevante, porque ela não tem um marido que pudesse defender os seus direitos, e que, portanto, se torna presa fácil de algum credor sem escrúpulos porque estes credores perseguiram os fracos para que lhes pagassem. Esta mulher, que vai depositar no tesouro do templo apenas duas moedas, tudo o que lhe restava e faz a sua oferta tentando passar despercebida, quase envergonhada. Mas, precisamente nesta humildade, ela realiza um ato carregado de grande significado religioso e espiritual. Aquele gesto cheio de sacrifício não escapa ao olhar de Jesus, que de facto vê nele o brilho do dom total de si para o qual deseja educar os seus discípulos.

O ensinamento que Jesus nos oferece hoje ajuda-nos a recuperar o que é essencial na nossa vida e promove um relacionamento concreto e quotidiano com Deus: Irmãos e irmãs, as balanças do Senhor são diferentes das nossas. Ele pesa as pessoas e os seus gestos de maneira diferente: Deus não mede a quantidade, mas a qualidade, examina o coração, olha para a pureza das intenções. Isto significa que o nosso "dar" a Deus em oração e aos outros na caridade deve sempre fugir do ritualismo e do formalismo, assim como a lógica do cálculo, para ser uma expressão da graça. Como Jesus que nos salvou gratuitamente; não se fez pagar pela redenção. Salvou-nos gratuitamente, E devemos fazer as coisas como expressão de gratuidade. É por isso que Jesus indica a pobre e generosa viúva, como modelo da vida cristã que deve ser imitada. Não sabemos o nome dela, mas conhecemos o coração dela - vamos encontrá-la no Céu e iremos cumprimentá-la, certamente -; e é isso que conta diante de Deus. Quando somos tentados pelo desejo de aparecer e contabilizar os nossos atos de altruísmo, quando estamos muito interessados no olhar das outras pessoas, e – permiti-me a palavra -  quando fazemos de "pavões", pensemos nesta mulher. Far-nos-á bem: ajudar-nos-á a nos livrarmos do supérfluo para irmos ao que realmente importa e permanecermos humildes.

A Virgem Maria, a mulher pobre que se deu totalmente a Deus, nos apoie no propósito de dar ao Senhor e aos irmãos não qualquer coisa de nós, as a nós mesmos, numa oferta humilde e generosa.  

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris!11.11.2018



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