Audiência Geral: «Ser cristão é um caminho de libertação»

Na ausiência-geral desta quarta-feira o Papa Francisco continuou a série de reflexões sobre os 10 Mandamentos. O «ser agradecido» e o «pedir ajuda» estiveram no centro da reflexão.

Leia, na íntegra a catequese do Papa Francisco.

 

Catequese sobre os Mandamentos. 3: O amor de Deus precede a lei e dá-lhe significado

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje, esta audiência terá lugar como na quarta-feira passada. Na sala Paulo VI há muitos doentes e para mantê-los aquecidos, porque assim ficam mais confortáveis, ali estão. Mas irão acompanhar a audiência a partir do grande ecrã e, mesmo nós com eles, ou seja, não há duas audiências. Existe apenas uma. Saudamos os doentes da sala Paulo VI. E continuamos a falar dos mandamentos que, como já dissemos, mais do que mandamentos são as palavras de Deus ao seu povo para bem caminhar; palavras amorosas de um pai. As Dez Palavras começam assim: «Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da condição servil» (Êx. 20, 2). Este começo parece estranho às leis que se seguem. Mas não é assim.

Porquê esta proclamação que Deus faz de si mesmo e da libertação? Por que se chega ao Monte Sinai depois de atravessar o Mar Vermelho: o Deus de Israel primeiro salva, depois pede confiança. [1] Ou seja: o Decálogo começa com a generosidade de Deus. Deus nunca pede sem dar primeiro. Nunca. Primeiro salva, primeiro dá, depois pede. Este é o nosso pai, Deus bom.

E entendamos a importância da primeira declaração: «Eu sou o Senhor, teu Deus». Há um possessivo, existe um relacionamento, um pertencer a. Deus não é um estranho: ele é o teu Deus. [2] Isto ilumina todo o Decálogo e também revela o segredo da ação cristã, porque é a mesma atitude de Jesus que diz: «Como o Pai me amou, eu vos amei» (Jo 15, 9). Cristo é amado pelo Pai e ama-nos com esse amor. Ele não parte de si mesmo, mas do pai. Muitas vezes as nossas obras falham porque começamos de nós mesmos e não da gratidão. E quem parte de si mesmo, aonde chega? Fica com ele mesmo! É incapaz de voltar atrás em si mesmo. É precisamente esta atitude egoísta que, brincando, as pessoas dizem: "Essa pessoa é só eu, eu sou comigo e para mim". Ele sai de si e retorna para si mesmo.

A vida cristã é acima de tudo a resposta grata a um Pai generoso. Os Cristãos que seguem apenas "deveres" relatam que não têm uma experiência pessoal daquele Deus que é "nosso". Eu tenho que fazer isso, isto, isto... Apenas deveres. Mas falta-te alguma coisa! Qual é o fundamento deste dever? O fundamento deste dever é o amor de Deus Pai, que primeiro dá, depois ordena. Colocar a lei antes do relacionamento não ajuda na jornada da fé. Como pode um jovem desejar ser cristão, se partirmos de obrigações, compromissos, coerências e não de libertação? Mas ser cristão é uma jornada de libertação! Os mandamentos libertam-te do teu egoísmo e libertam-te porque existe o amor de Deus que te leva para a frente. A formação cristã não se baseia na força de vontade, mas na aceitação da salvação, em deixar-se amar: primeiro o Mar Vermelho, depois o Monte Sinai. Salvação primeiro: Deus salva o seu povo no Mar Vermelho; então no Sinai ele diz-lhe o que deve fazer. Mas o povo sabem que estas coisas se realizam porque foram salvos por um Pai que os ama.

A gratidão é um traço característico do coração visitado pelo Espírito Santo; Para obedecer a Deus, é necessário, antes de mais, recordar os seus benefícios. Diz-nos São Basílio: «Quem não deixa estes benefícios cair no esquecimento, é orientado para a boa virtude e para as obras de justiça» (Regras Breves, 56). Onde nos traz tudo isto? A fazer um exercício de memória: [3] quantas coisas belas Deus fizeram por cada um de nós! Quão generoso é o nosso Pai Celestial! Proponho-vos, agora, um pequeno exercício, em silêncio. Cada um responda no seu coração. Quantas coisas bonitas fez Deus por mim? Esta é a questão. Em silêncio, cada um de nós responda. Quantas coisas bonitas fez Deus por mim? E esta é a libertação de Deus, Deus faz muitas coisas belas e liberta-nos.

Ainda assim, alguém pode sentir que ainda não fez uma verdadeira experiência da libertação de Deus. O que pode acontecer. Pode ser que alguém olhe para dentro e encontre apenas um senso de dever, uma espiritualidade como servos e não como filhos. O que fazer neste caso? Como fez o povo escolhido. O Livro do Êxodo diz: «Os israelitas gemiam na servidão, e ergueram até Deus o seu grito de socorro na sua servidão. Deus ouviu os seus lamentos e recordou-se da sua aliança com Abraão, Isacc e Jacob. Deus olhou para a condição dos israelitas, e reconheceu-os» (Ex 2,23-25). Deus pensa em mim.

A ação libertadora de Deus colocada no início do Decálogo - isto é, dos mandamentos - é a resposta a esta lamentação. Nós não nos salvamos sozinhos, mas de nós pode partir um grito de ajuda: “Senhor, salva-me, Senhor, ensina-me o caminho, Senhor, acaricia-me, Senhor, dá-me um pouco de alegria”. Este é um grito que pede ajuda. Isto depende de nós: pedir para sermos libertados do egoísmo, do pecado, das cadeias da escravidão. Este grito é importante, é a oração, é a consciência do que ainda é oprimido e não libertado em nós. Há muitas coisas não libertadas na nossa alma. "Salva-me, ajuda-me, liberta-me". Esta é uma bela oração ao Senhor. Deus espera este choro, porque ele pode e quer quebrar as nossas cadeias; Deus não nos chamou à vida para permanecermos oprimidos, mas para sermos livres e vivermos em gratidão, obedecendo com alegria àquele que nos deu tanto, infinitamente mais do que podemos dar a Ele. Isto é lindo. Que Deus seja sempre abençoado por tudo o que ele fez, faz e fará em nós!

 

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|27.06.2018

 

 



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