Vaticano: «Beber da própria sede», 7ª pregação

«Beber da própria sede» foi o tema da 7º pregação do padre Tolentino de Mendonça nos exercícios espirituais que orienta ao Papa e à Cúria Romana até ao próximo sábado.

“O grande obstáculo para a vida de Deus dentro de nós não é a fragilidade ou a fraqueza, mas a dureza e a rigidez. Não é a vulnerabilidade e a humilhação, mas o seu oposto: o orgulho, a autossuficiência, a autojustificação, o isolamento, a violência, o delírio de poder”, afirmou o padre Tolentino citado pelo portal noticioso do Vaticano.

Para o vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa a Igreja “nunca se deve isolar” mas embrenhar-se na realidade em busca da verdade:

“Não é positivo que a Igreja fique a falar sozinha, ou que se isole numa torre de marfim. Ela é mestra, mas é também discípula, também aprendiz em busca da verdade.”

“A fé Bíblica, a nossa fé cristã, é uma experiência de nomadismo. Hoje alguns cientistas estão a apresentar-nos o sedentarismo como a doença do século XXI. Não existirá entre nós sedentarismo espiritual”, questionou.

“Quase sem nos darmos conta, tornamo-nos guias de peregrinos, mas não peregrinamos mais!”, lamentou.

“Tornamos guardiões do sagrado, em vez de pessoas em busca do sagrado. Agimos como administradores, em vez de nos considerarmos exploradores, interrogantes e apaixonados”, sustentou.

“ Temos sempre a caridade na boca, mas há muito perdemos o sentido da gratuidade e da oblação.”

Tomando o exemplo da vocação de Abrãao, que Deus convida a sair da sua terra, da casa do pai e seguir para a terra que Deus lhe vai indicar o padre e poeta português apelou a que este chamamento continue na Igreja hoje:

“Este chamamento é o mesmo que Ele diz à Igreja do nosso tempo e a cada um de nós. O lugar preferencial em que a fé se inscreve é existir-em-construção. Por isso devemos aprender a beber da nossa sede. Isto é, devemos ousar valorizá-la mais espiritualmente”.

Para o padre Tolentino Mendonça é urgente tomar consciência de que “nenhuma etapa do caminho espiritual nos impermeabiliza da vulnerabilidade, da qual devemos ter consciência. Carregamos o nosso tesouro em vasos de barro, lembra-nos São Paulo. Somos por isso chamados a viver o dom de Deus até o fim, na fragilidade, da fraqueza, na tentação e na sede, afirmou.

O padre Tolentino Mendonça sustentou, então que “num processo de maturação humana e espiritual, é o nosso modo de acolher, a sabedoria ao interpretar, a liberdade interior que desfaz os determinismos que altera o modo como encaramos as tentações. É como se a sede nos humanizasse e constituísse um caminho de amadurecimento espiritual”, explicou.

“A força da qual realmente precisamos, a graça de que necessitamos, não é a nossa, mas a de Cristo! Se nos dispormos à escuta, a sede pode ser um mestre precioso da vida interior”.



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