Vaticano: «As lágrimas que nos tornam santos», 6ª pregação

A «sede de lágrimas» foi o centro da 6ª pregação do padre Tolentino de Mendonça nos exercícios espirituais que orienta ao Papa e à Cúria Romana até ao próximo sábado.

«As lágrimas que falam de uma sede» foi o tema escolhido para explicar a “presença feminina no Evangelho:

“No Evangelho, as mulheres, expressam- se quase sempre com gestos. Dedicam-se ao serviço, não competem pela liderança; estão ‘com’ Jesus e fazem do Seu destino o próprio de cada uma. ‘Servem’, o que na gramática de Jesus, é o verbo mais nobre”, apontou citado pelo site de comunicação do Vaticano.

“Com esta linguagem, evangelizam com o modo dos periféricos, dos simples, dos últimos “.

O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa apontou as “lágrimas” das mulheres Bíblicas como “um dos elementos que une as personagens femininas”:

“No evangelho de Lucas todas choram, expressando emoções, conflitos, alegrias, solidão ou feridas. Nos Evangelhos, Cristo também chora, assumindo a nossa condição e todas as lágrimas do mundo. Elas explicam a nossa sede de vida, de desejo; de relação. São a linha divisória que distingue os seres que sabem tudo dos seres que não sabem nada. São aquilo que pode nos tornar santos depois de humanos”, sustentou.

Em seguida o padre e poeta português apresentou o exemplo de uma mulher, presente no evangelho de Lucas indicando o “tipo de sede” presente e a lição a retirar para o hoje de cada um:

“O Evangelho de Lucas apresenta uma mulher que chora e ensina a chorar: uma intrusa, discípula anónima que segue o Mestre confiante que Ele a protegerá. Aparece sem ser convidada, unge e chora aos pés de Jesus. Não teve medo, mas as suas lágrimas ‘contavam a sua história’, como afirma o escritor Roland Barthes”.

“O nosso choro não revela apenas a intensidade da nossa dor, mas a natureza da nossa sensibilidade pois chorando, dirigimo-nos sempre a alguém. É a sede do próximo que nos leva a chorar”, considerou.

Esta mulher “que unge os pés de jesus com as suas próprias lágrimas” “toca Jesus”:

“Como sacerdotes, muitas vezes mantemos a distância da religiosidade popular que se expressa com lágrimas e afetividade, considerando-a uma forma de devoção ‘primitiva’; ou às vezes nem a notamos”.

Para o padre Tolentino isto acontece porque “é difícil perceber a religião dos simples, baseada em gestos e não em ideias. A religião dos pastores pode ser perfeita em termos formais, teologicamente impecável, mas é ascética, impessoal, atuada com eficiência... mas não comove, não chega às lágrimas... vai com o ‘piloto automático’”, criticou.

“Repete-se connosco o que aconteceu com o fariseu: convidamos Jesus a entrar em nossa casa, mas não estamos disponíveis a celebrar com Ele daquela forma radical de hospitalidade que é o amor”.

 

Educris|21.02.2018

Imagem: www.vatican.va



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