Audiência-geral: «Liturgia da Palavra - O Diálogo entre Deus e o seu povo»

Na manhã desta quarta-feira o Papa Francisco encontrou-se na praça de São Pedro, no Vaticano, com milhares de peregrinos para a tradicional audiência-geral das quartas-feiras.

A oitava catequese sobre a eucaristia teve como tema «A Santa Missa - 8. Liturgia da Palavra: O Diálogo entre Deus e o seu povo»

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuamos hoje as catequeses sobre a Santa Missa. Depois de abordarmos os ritos de introdução, consideremos agora a Liturgia da Palavra, que é uma parte constitutiva porque nos reunimos para ouvir o que Deus fez e ainda pretende fazer por nós. É uma experiência que ocorre “em direto” e não por ouvir dizer, porque «quando as Escrituras são lidas na Igreja, o próprio Deus fala com o seu povo e Cristo, presente na palavra, anuncia a Boa Nova» (Instrução Geral do Missal Romano, 29; cf Const. Sacrosanctum Concilium, 7; 33). E quantas vezes, enquanto a Palavra de Deus é lida, é comentada: "Olhe para isto..., veja isto..., olhe o chapéu que trouxe aquela: é ridículo...”. E assim começamos a fazer comentários. Não é verdade? Os comentários devem ser feitos ao ler a Palavra de Deus? [responde a assembleia: "Não!"]. Não, porque se tu fazes conversa fiada com as pessoas não escutas a Palavra de Deus. Quando lemos a Palavra de Deus na Bíblia - a primeira leitura, a segunda, o salmo responsorial e o evangelho - devemos ouvir, abrir o coração, porque É o próprio Deus quem nos fala e não pensar noutras coisas nem falar sobre outras coisas. Entendido? Vou explicar-vos o que acontece nesta Liturgia da Palavra.

As páginas da Bíblia deixam de ser um escrito para se tornarem palavra viva, pronunciada por Deus. É Deus que, através da pessoa que lê, nos fala e nos desafia a nós que escutamos com fé. O Espírito «que falou através dos profetas» (Credo) e inspirou os autores sagrados, faz com que «a palavra de Deus opere verdadeiramente nos corações e ressoe nos ouvidos» (Lectionário, Introd., 9). Mas para escutar a Palavra de Deus é também necessário ter o coração aberto para receber as palavras no coração. Deus fala e nós escutamo-lo para depois colocarmos em prática o que ouvimos. É muito importante ouvir. Às vezes, podemos não entender por que existem algumas leituras difíceis. Mas Deus aí fala-nos de outra maneira. [É necessário estar] em silêncio e escutar a Palavra de Deus. Não esqueçamos isto. Na missa, quando as leituras começam, escutemos a Palavra de Deus.

Necessitamos escutá-la! Na verdade, é uma questão de vida, como bem nos recorda a expressão incisiva que «nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que vem da boca de Deus» (Mt 4, 4). A Palavra de Deus dá-nos a vida. Neste sentido, falamos da Liturgia da Palavra como a "mesa" com que o Senhor pretende alimentar a nossa vida espiritual. É uma mesa abundante a da liturgia, que se baseia principalmente nos tesouros da Bíblia (cf. SC, 51), tanto do Antigo como do Novo Testamento, porque nelas é anunciado na Igreja o único e o mistério Cristo mesmo (cf. lecionário, Introd., 5). Pensemos na riqueza das leituras bíblicas oferecidas pelos três ciclos dominicais que, à luz dos Evangelhos sinópticos, nos acompanham durante o ano litúrgico: uma grande riqueza. Desejo aqui recordar também a importância do Salmo responsorial, cuja função é favorecer a meditação sobre o que foi ouvido na leitura que o precede. É bom que o salmo seja valorizado com o canto, ao menos no refrão (ver OGMR, 61, Lecionário, Introd., 19-22).

A proclamação litúrgica das idênticas leituras, com os cantos retirados da Sagrada Escritura, expressam e promovem a comunhão eclesial, acompanhando o caminho de todos e de cada um de nós. Percebe-se portanto o porquê de algumas escolhas subjetivas, como a omissão de leitura ou a sua substituição dos textos não bíblicos, serem proibidas. Ouvi que alguns, e isto é uma noticia, leem o jornal, porque é a noticia do fia. Não! A Palavra de Deus é a palavra de Deus! O jornal podemos lê-lo depois. Mas ali lê-se a Palavra de Deus. É o Senhor que fala. Substituir esta Palavra por outras coisas empobrece e compromete o diálogo entre Deus e o seu povo em oração. Pelo contrário, [requer-se] a dignidade do ambão e o uso do Lecionário, a disponibilidade de bons leitores e salmistas. Mas devemos procurar bons leitores! Aqueles que sabem ler, e não aqueles que leem [distorcendo as palavras] e não se percebe nada. É assim. Bons leitores. Deve-se preparar e fazer um ensaio antes da Missa para se ler bem. E isto cria um clima de silêncio recetivo [1].

Sabemos que a palavra do Senhor é uma ajuda indispensável para não falhar, como o salmista que, voltando-se para o Senhor, confessa: «A tua palavra é farol para os meus passos e luz para os meus caminhos» (Sl 119,105). Como podemos enfrentar a nossa peregrinação terrena, com os seus trabalhos e as suas provações, sem ser regularmente nutridos e iluminados pela Palavra de Deus que ressoa na liturgia?

Certamente que não é suficiente ouvir com os ouvidos, sem acolher a semente da Palavra divina no coração, permitindo que ela dê frutos.

Recordemo-nos da parábola do semeador e dos diferentes resultados de acordo com os diferentes tipos de terreno (Cf. Mc 4, 14-20). A ação do Espírito, que torna eficaz a resposta, necessita de corações que se deixem trabalhar e cultivar, de modo a que o que se ouve na Missa passe para o quotidiano, de acordo com o conselho do apóstolo Tiago: «Mas tendes de a pôr em prática e não apenas ouvi-la, enganando-vos a vós mesmos» (Tiago 1, 22). A Palavra de Deus faz um caminho dentro de nós. Nós ouvimos com os nossos ouvidos e passamos para o coração; não permanece nos ouvidos, deve ir ao coração; e do coração passa para as mãos, para boas obras. Este é o caminho que a Palavra de Deus faz: dos ouvidos ao coração e às mãos. Aprendamos estas coisas. Obrigado!

Tradução Educris a partir do original em italiano



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades