Vaticano: «A Mãe não é um dom opcional, é o testamento de Cristo»

Leia, na íntegra, a homilia do Papa Francisco na celebração da eucaristia deste Domingo IV do Tempo Comum por ocasião da Festa da Trasladação do ícone Salus Populi Romani, na basílica de Santa Maria Maior.

 

Como povo de Deus a caminho, estamos aqui para permanecer no templo da Mãe. A presença da Mãe faz deste templo uma casa familiar para nós filhos. Em conjunto com gerações e gerações de romanos, reconhecemos nesta casa materna a nossa casa, a casa onde encontramos o restauramos as nossas forças, o conforto, a proteção, o abrigo. O povo cristão entendeu, desde o início, que, nas dificuldades e provações, devemos recorrer à Mãe, conforme indicado pela mais antiga antífona mariana: sob Tua proteção buscamos refúgio, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre, de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita.

Procuramos refúgio. Os nossos Pais na fé ensinaram-nos que nos momentos de tormenta necessitamos recolher-nos sob o manto da Santa Mãe de Deus. Houve um tempo em que os perseguidos e refugiados buscavam refúgios junto às senhoras nobres: quando o seu manto, considerado inviolável, se estendia como um sinal de acolhimento, a proteção era-lhes concedida. É assim também para nós em relação a Nossa Senhora, a mulher mais elevada da humanidade. O seu manto está sempre estendido para nos receber e nos reunir. Recorda-nos disso mesmo o Oriente cristão, onde muitos festejam a proteção da Mãe de Deus, que é um belo ícone que nos retrata a Mãe que abriga, sob o seu manto, os filhos e cobre o mundo inteiro. Também os monges antigos recomendavam, nas provações, refugiar-se sob o manto da Santa Mãe de Deus: invocando-a - "Santa Mãe de Deus" - era já garantia de proteção e ajuda e repetia-se como oração: "Santa Mãe de Deus", " Santa Mãe de Deus "... Somente desta maneira.

 

Esta sabedoria, que vem de longe, ajuda-nos: a Mãe custodia a fé, protege as relações, salva nas intempéries e preserva do mal. Onde a Madonna está em casa, o diabo não entra. Onde a Madonna está em casa, o diabo não entra. Sempre que a Senhora está em casa o diabo não entra. Quando a Senhora é de casa o diabo não entra. Onde está a Mãe a tribulação não prevalece, o medo não vence. Quem de entre nós não necessita disto, quem de entre nós não fica perturbado e inquieto por vezes? Quantas vezes o coração é um mar em tempestade, onde as ondas dos problemas se sobrepõem e os ventos da preocupação não param de soprar! Maria é a arca segura no meio do dilúvio. Não são ideias ou a tecnologia que nos confortam e nos dão esperança, mas o rosto da Mãe, as suas mãos acalentam a vida, o seu manto abriga-nos. Aprendamos a encontrar refúgio, andando todos os dias até à Mãe.

 

Não desprezeis as nossas súplicas, continua a antífona. Quando nós lhe suplicamos, Maria súplica por nós. Existe um belo nome em grego que nos diz isto mesmo: um bom título em grego que diz isso: Grigorusa – que significa «Aquela que intercede prontamente»; E este prontamente é usado por Lucas no Evangelho para dizer como vai Maria junto de Isavel; prontamente, rapidamente! Intercede prontamente, não se demora, como escutámos no Evangelho, onde imediatamente leva a Jesus a necessidade concreta daquelas pessoas: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3), nada mais!

Assim faz, sempre que a invocamos: quando nos falta a esperança, quando escasseia a alegria, quando se esgotam as forças, quando se obscurece a estrela da vida, a Mãe intervém. E se a invocamos, ela intervém mais. Ela está atenta aos trabalhos, sensível à turbulência - a turbulência da vida -, perto do coração. E nunca, nunca despreza as nossas orações; não deixa perder-se uma sequer. É Mãe, nunca Se envergonha de nós; ao contrário só espera poder ajudar os seus filhos.”

 

“Um episódio pode ajudar-nos a compreender isto. Junto de uma cama de hospital, uma mãe velava pelo seu filho, sofrendo na consequência de um acidente. Aquela mãe estava sempre ali, dia e noite. Uma vez lamentou-se com o sacerdote, dizendo: «Mas a nós, mães, o Senhor não permitiu uma coisa!» «O quê?»: perguntou o padre. «Carregar a dor dos filhos»: replicou a mulher. Eis o coração de mãe: não se envergonha das feridas, das fraquezas dos filhos, mas quer tomá-las sobre si mesma. E a Mãe de Deus e nossa sabe tomar sobre Si, consolar e curar.”

Continua a antífona, Livrai-nos de todos os perigos. O próprio Senhor sabe que precisamos de refúgio e proteção no meio a tantos perigos. Por isso, no momento mais alto, na cruz, diz ao discípulo amado, a cada discípulo: «Eis a tua Mãe!» (Jo 19.27). E nós precisamos dela como precisa de repouso um viajante, de ser levado nos braços como um bebé. É um grande perigo para a fé viver sem Mãe, sem proteção, deixando-nos arrastar pela vida como as folhas pelo vento. O Senhor sabe-o, e recomenda-nos acolher a Mãe. Não é um galanteio espiritual, é uma exigência de vida. Amá-La, não é poesia; é saber viver. Porque, sem Mãe, não podemos ser filhos. E, antes de tudo, nós somos filhos, filhos amados, que têm Deus por Pai e Nossa Senhora por Mãe.

O Concílio Vaticano II ensina que Maria é «sinal de esperança segura e de consolação para o povo de Deus ainda peregrino». (Cost. Lumen gentium, VIII, V). É sinal, é o sinal que Deus colocou para nós. Se não o seguirmos, andamos fora da estrada. Porque ela é uma sinalética da vida espiritual, que deve ser observada. A nós, «que, entre perigos e angústias, caminhamos ainda na terra», tal sinalização indica-nos a Mãe, que já chegou à meta. Quem melhor do que Ela nos pode acompanhar no caminho? Por que esperamos? Como o discípulo que, ao pé da cruz, acolheu consigo a Mãe «como sua», também nós convidamos Maria, desta casa materna, para a nossa casa, no nosso coração, na nossa vida.

Não se pode ficar indiferente, nem separado da Mãe, caso contrário perdemos a nossa identidade de filhos e de povo, e vivemos um cristianismo feito de ideias e programas, sem consagração, sem ternura, sem coração. Mas, sem coração, não há amor; e a fé corre o risco de se tornar uma linda fábula doutros tempos. Ao contrário, a Mãe guarda e prepara os filhos. Ama-os e protege-os, para que amem e protejam o mundo. Façamos da Mãe o hóspede do nosso dia-a-dia, a presença constante em nossa casa, o nosso refúgio seguro. Consagremos-Lhe cada dia. Invoquemo-La em cada turbulência. E não nos esqueçamos de voltar junto d’Ela para Lhe agradecer. Agora, olhando para ela, assim que saímos do hospital, olhemos para ela com ternura e saudemo-la como a saudaram os cristãos de Éfeso. Todos juntos, três vezes: "Santa Mãe de Deus". Todos juntos: "Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus, Santa Mãe de Deus".

Tradução Educris a partir do original em italiano



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