Papa ao encontro do Clima em Bona: «Negação, indiferença, resignação e confiança»

Leia, na íntegra, a mensagem do Papa Francisco aos participantes da Cimeira sobre as alterações climáticas que se reúne em Bona, na Alemanha, até ao próximo dia 17 de novembro.

Excelência,

Há quase dois anos, a comunidade internacional encontrava-se neste fórum da UNFCCC, com a maioria dos seus principais representantes governamentais, e após um longo e complexo debate surgiu a adoção do histórico Acordo de Paris. Aí se viu o nascimento de um consenso sobre a necessidade de lançar uma estratégia compartilhada para contrariar um dos fenómenos mais preocupantes que a nossa humanidade está a enfrentar: as alterações climáticas.

A vontade de dar seguimento a este consenso foi marcada pela velocidade com que o Acordo de Paris entrou em vigor, menos de um ano após a sua adoção.

O Acordo indica um caminho de transição claro para um modelo de economia de carbono baixo ou zero, incentivando a solidariedade e alavancando os fortes vínculos entre combater as mudanças climáticas e a pobreza. Esta transição é ainda mais marcada pela urgência climática que exige um maior envolvimento dos países, alguns dos quais terão que tentar assumir o papel principal desta transição, tendo em mente as necessidades das populações mais vulneráveis.

Nestes dias estais reunidos em Bona para poderdes avançar para uma nova fase importante do Acordo de Paris: o processo de definição e construção de diretrizes, regras e mecanismos institucionais de modo a que ele seja realmente efetivo e capaz de contribuir para a consecução dos objetivos complexos que propõe. Em tal caminho, é necessário manter um alto nível de cooperação.

Nesta perspetiva, gostaria de reafirmar o meu apelo urgente para a renovação do diálogo sobre como estamos a construir o futuro do planeta. Precisamos de um tarefa que nos una a todos, porque o desafio ambiental que vivemos e as suas raízes humanas afeta-nos, afeta-nos a tosos. [...] Infelizmente, muitos dos esforços para encontrar soluções concretas para a crise ambiental se veem, muitas vezes, frustrados [por vários motivos], vão desde da simples negação do problema até à indiferença, à resignação comoda ou à confiança cega nas soluções técnicas (cf. Laudato Si’, 14).

Devemos evitar cair nestas quatro atitudes perversas, que certamente não ajudam a pesquisa honesta e um diálogo sincero e produtivo sobre a construção do futuro do nosso planeta: negação, indiferença, resignação e confiança em soluções inadequadas.

Além disso, não podemos limitar-nos unicamente à dimensão económica e tecnológica: soluções técnicas são necessárias, mas não suficientes; é essencial e desejável considerar cuidadosamente os aspetos e impactos éticos e sociais do novo paradigma de desenvolvimento e progresso no curto, médio e longo prazo.

Nesta perspectiva, é cada vez mais necessário prestar atenção à educação e aos estilos de vida baseados numa ecologia integral, capaz de assumir uma visão de pesquisa honesta e diálogo aberto onde as várias dimensões do Acordo de Paris. Isto, é bom recordá-lo, “lembra-nos a grave responsabilidade [...] de agir sem demoras tão livremente quanto possível por pressões políticas e económicas, superando interesses e comportamentos particulares" (Mensagem para COP22). Trata-se, em concreto, de propagar uma "consciência responsável" em relação à nossa casa comum (Cfr Enc. Laudato si’, 202; 231) através do contributo de todos, na explicação das diferentes formas de ação e parcerias entre os vários interessados, alguns dos quais que não se cansam de destacar o génio do ser humano em favor do bem comum.

Enquanto lhe transmito as minhas saudações, Senhor Presidente, e para todos os participantes desta Conferência, espero que, com a sua orientação e das Ilhas Fiji, o trabalho destes dias seja animado pelo mesmo espírito colaborativo e positivo manifestado durante a COP21. Isto acelerará a consciencialização e consolidará a vontade de tomar decisões efetivas para combater o fenómeno das mudanças climáticas, e, ao mesmo tempo lutar contra a pobreza e a promoção do verdadeiro desenvolvimento humano como um todo. Este compromisso é apoiado pela sábia Providência do Altíssimo.

Vaticano, 7 de novembro de 2017

Tradução Educris a partir do original em italiano |16.11.2017



Newsletter Educris

Receba as nossas novidades