Audiência-geral: «Os inimigos da esperança»

Disponibilizamos, na íntegra, a catequese do Papa Francisco subordinada ao tema «Esperança cristã - 34. Os inimigos da esperança» proferida nesta manhã de quarta-feira na praça de São Pedro, no Vaticano.

Caros Irmãos e Irmãs, Bom dia!

Neste tempo temos vindo a falar da esperança; mas hoje gostaria de refletir convosco sobre os inimigos da esperança. Porque a esperança tem os seus inimigos: como todo o bem neste mundo tem os seus inimigos.

E lembrei-me do antigo mito da caixa de Pandora: a abertura da caixa provoca tantos infortúnios para a história do mundo. Poucos, no entanto, recordam a última parte da história, que abre uma brecha de luz: depois de todos os males terem saído do interior da caixa, um pequeno dom parece aparecer diante de todo o mal que se espalha. Pandora, a mulher que tinha a custódia da caixa, vê-o em último: os gregos chamam-lhe «Elpis», o que significa esperança.

Este mito conta-nos o porquê de ser tão importante para a humanidade a esperança. Não é verdade que "enquanto há vida há esperança", como é costume dizer-se. É, de facto, ao contrário: é a esperança que sustenta a vida, que a protege, preserva e a faz crescer. Se os homens não tivessem cultivado a esperança, se não tivessem sido apoiados por esta virtude, nunca deixariam as cavernas e não deixariam vestígios na história do mundo. É o que de mais divino pode existir no coração do homem.

Um poeta francês - Charles Péguy – deixou-nos páginas maravilhosas sobre a esperança (cf: Os Portais do Mistério da Segunda Virtude). Ele diz, de maneira poética, que Deus não se surpreende tanto com a fé dos seres humanos, nem com a sua caridade; Mas o que realmente O enche de admiração e comoção é a esperança das pessoas: «Estas crianças pobres - escreve ele- que diante do presente acreditam que amanhã será melhor». A imagem do poeta lembra os rostos de tantas pessoas que caminhando neste mundo - camponeses, trabalhadores pobres, migrantes em busca de um futuro melhor – lutam tenazmente apesar do hoje amargo e difícil, cheio de tantas provações, animados tão só pela confiança de que os seus filhos terão uma vida mais justa e mais serena. Eles lutaram pelos seus filhos, eles lutaram com esperança.

A esperança é o impulso no coração daqueles que deixaram a casa, a terra, às vezes familiares e parentes – penso nos migrantes -, para procurar uma vida melhor, mais digna de si mesma e dos seus entes queridos. E é também o impulso no coração daqueles que os acolhem: o desejo de conhecer, conhecer, dialogar... A esperança é o impulso de “compartilhar a viagem”, porque a jornada faz-se a dois: aqueles que vem para a nossa terra e nós, que caminhamos até eles de coração, compreendendo-os, compreendendo a sua cultura, e a sua linguagem. É uma viagem a dois, mas sem a esperança, esta jornada não se pode fazer. A esperança é o impulso de compartilhar a viagem da vida, como nos lembra a Campanha da Cáritas que hoje iniciamos. Irmãos, não tenhamos medo de compartilhar a viagem! Não tenhamos medo! Não tenhamos medo de compartilhar a esperança!

A esperança não é virtude para as pessoas com estômago cheio. É por isso que, desde sempre, os pobres são os primeiros portadores de esperança. E, nesse sentido, podemos dizer que os pobres, até os mendigos, são os protagonistas da História. Para entrar no mundo, Deus precisava deles: José e Maria, dos pastores de Belém. Na noite do primeiro Natal, enquanto o mundo dormia, embalado em tantas certezas duvidosas. Mas eles, os humildes, preparavam no oculto a revolução da bondade. Eram os pobres de tudo, alguns tentando sobreviver pouco acima da linha da sobrevivência, mas eram ricos do bem mais preciosos que existem no mundo, isto é, o desejo de mudar.

Às vezes, ter tudo na vida é um infortúnio. Pensai num jovem a quem não foi ensinado a virtude da espera e da paciência, que não teve de suar para nada, que foi queimando as etapas e aos vinte anos “já sabe como vai o mundo”; foi destinado ao pior castigo: aquela de não desejar coisa nenhuma. E esta é a pior condenação. Fechar a porta ao desejo, aos sonhos. Parece um jovem, em vez disso o outono já se apoderou do seu coração. São os jovens do outono.

Ter uma alma vazia é o pior obstáculo para a esperança. É um risco do qual ninguém pode dizer-se excluído; porque o ser-se tentado contra a esperança também pode acontecer quando se percorre o caminho da vida cristã. Os monges da antiguidade já haviam denunciado um dos piores inimigos do fervor. Diziam-no deste modo: Este “demónio do meio dia” que vai sugar uma vida de empenho, na mesma hora em que no alto arde o sol. Esta tentação surpreende-nos quando nós mesmos esperamos: os dias tornam-se aborrecidos e monótonos, não se encontrando nenhum valor digno da fadiga. Esta atitude tem pelo nome preguiça e corrói a vida desde o seu interior até a deixar como um involucro vazio.

Quando isto acontece, o cristão sabe que essa condição deve ser combatida, nunca aceite passivamente. Deus criou-nos para a alegria e a felicidade, e não para nos crucificar com pensamentos melancólicos. É por isso que é importante custodiar o nosso próprio coração, opondo-se às tentações de infelicidade, que certamente não vêm de Deus. E sempre que as nossas forças nos parecerem fraquejar e a batalha contra a angústia esteja particularmente dura, podemos sempre recorrer ao nome de Jesus. Possamos repetir aquela oração simples, que encontramos mesmo nos Evangelhos e que se tornou o ponto cardinal de tantas tradições espirituais cristãs: “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, tem piedade de mim que sou pecador!”. Linda oração. “Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus Vivo, tem piedade de mim que sou pecador!” Esta é uma oração de esperança, porque volto-me para Aquele que pode abrir as portas e resolver o problema e fazer-me olhar para o horizonte, o horizonte da esperança.

Irmãos e irmãs, não estamos sozinhos a combater contra o desespero. Se Jesus ganhou o mundo, ele pode vencer em nós tudo o que se opõe ao bem. Se Deus está connosco, ninguém roubará aquela virtude da qual temos absoluta necessidade para viver. Ninguém nos roubará a esperança. Vamos para a frente!

Educris a partir do original em Italiano

 

Educris|27.09.2017 



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