Audiência-geral: «O nosso Pai é o Deus da novidade e da surpresa»

Disponibilizamos, na íntegra, a catequese do Papa Francisco subordinada ao tema «31. "Eis que faço novas todas as coisas” (Atos 21, 5). A novidade da esperança cristã» proferida nesta manhã de quarta-feira na Sala Paulo VI, no Vaticano.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Ouvimos a Palavra de Deus no Livro do Apocalipse, que nos afirma: «Eis que eu faço novas todas as coisas» (21: 5). A esperança cristã é baseada na fé em Deus que cria sempre novidade na vida do homem, cria novidade na história, cria novidade no cosmos. O nosso Deus é o Deus que cria novidade, porque é o Deus das surpresas.

Não é cristão o caminhar com o rosto por terra – como fazem os porcos: andam sempre deste modo – sem erguer o olhar para o horizonte. Como se todos os nossos caminhos estivessem aqui, na palma de alguns metros de viagem; como se não houvesse nenhum destino ou nenhuma outra meta nas nossas vidas, e fossemos forçados a uma errância eterna nesta terra, sem qualquer razão para tanto do nosso esforço. Isto não é cristão.

As páginas finais da Bíblia mostram-nos o horizonte último do caminhar do crente: a Jerusalém do céu, a Jerusalém celestial. Ela é imaginada, antes de tudo como uma imensa tenda, onde Deus acolherá todos os homens para habitarem definitivamente com ele (Ap 21,3). E esta é a nossa esperança. E o que fará Deus, quando finalmente nos encontraremos com Ele? Usará de ternura infinita para connosco, como um pai que acolhe os seus filhos que lutaram e sofreram por muito tempo. João, no Apocalipse, profetiza: «esta é a tenda de Deus entre os homens! [... Ele] enxugará as lágrimas dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem gritos, nem dor. Sim! As coisas antigas desapareceram! […] Eis que faço novas todas as coisas!» (21,3-5). O Deus da novidade!

Tentemos meditar esta passagem da Sagrada Escritura não de maneira abstrata, mas depois de ler a história do nosso dia, depois de ter visto o telejornal ou a capa do jornal, onde há tantas tragédias, onde são relatadas noticias tristes nas quais tudo o que buscamos se esfuma. Eu saudei algumas pessoas de Barcelona: quantas notícias tristes de lá! Saudei pessoas do Congo, e quantas notícias tristes de lá! E quantos outros! Para citar apenas dois países que hoje aqui têm pessoas ... tentemos pensar nos rostos das crianças com medo da guerra, das mães que choram, dos sonhos de tantos jovens, dos refugiados que enfrentam viagens terríveis e são explorados tantas vezes ... A vida infelizmente é também isto. Às vezes, diríamos, é sobretudo isto.

Pode acontecer assim. Mas há um Pai que chora com a gente; há um Pai que chora com lágrimas de piedade infinita em relação aos seus filhos. Temos um Pai que sabe chorar, que chora com a gente. Um Pai que se torna presente para nos consolar, porque conhece os nossos sofrimentos e preparou-nos um futuro diferente. Esta é a grande visão da esperança cristã que se dilata a todos os dias da nossa existência, e deseja que cresçamos.

 

Deus não desejou as nossas vidas por engano, forçando-se a Si mesmo e a nós a duras noites de angústia. Ele criou-nos porque ele nos quer felizes. É nosso Pai, e se nós estamos aqui, agora, vivendo uma vida que não é a que Ele queria para nós, Jesus assegura-nos que o próprio Deus está a realizar o seu resgate. Ele trabalha para nos resgatar.

Acreditamos e sabemos que a morte e o ódio não são as últimas palavras pronunciadas na parábola da existência humana. Ser cristão implica uma nova perspetiva: um olhar cheio de esperança. Alguns acreditam que a vida detém toda a sua felicidade na juventude e no passado, e que a vida é uma decadência lenta. Outros ainda sentem que as nossas alegrias são apenas episódicas e apaixonadas, e na vida dos homens está inscrito o não sentido. Aqueles que estão perante tantas calamidades dirão: "Mas a vida não faz sentido. A nossa estrada é um não-sentido”. Mas nós, cristãos, não acreditamos nisto. Acreditamos, ao invés, que no horizonte do homem, há um sol que se ilumina para sempre. Acreditamos que os nossos dias mais belos ainda estão por vir. Somos gente mais de primavera do que de outono. Gostaria de perguntar, a propósito – cada um responda no seu coração, em silêncio, mas responda -: "Eu sou um homem, uma mulher, um menino, uma menina da primavera ou de outono? A minha alma está na primavera ou no outono? " Cada um responda. Descubramos os rebentos de um mundo novo em vez de contemplarmos as folhas amarelas nos galhos. Não choremos com nostalgia, arrependimento e lamento: sabemos que Deus nos tornou herdeiros de uma promessa e incansáveis cultivadores de sonhos. Não esqueçamos esta pergunta: "Sou uma pessoa de primavera ou de outono?" Da primavera, aguardando a flor, aguardando o fruto, aguardando o sol que é Jesus ou outono, que está sempre com o rosto por terra, amargo e, como eu disse, com cara de peperoni em vinagre.

O cristão sabe que o Reino de Deus, a sua Senhoria de amor está a crescer como um grande campo de trigo, mesmo que haja as ervas daninhas no meio. Haverá sempre problemas, existem coscuvilhices, guerras, doenças ... há problemas. Mas o trigo cresce e, no final, o mal será eliminado. O futuro não nos pertence, mas sabemos que Jesus Cristo é a maior graça da vida: é o abraço de Deus que nos espera no final, mas que já nos acompanha e nos consola no caminho. Ele leva-nos à grande "tenda" de Deus com os homens (cf. Atos 21: 3), com muitos outros irmãos e irmãs, e levaremos a Deus a memória dos dias vividos aqui.  E será belo descobrir naquele instante que nada ficou perdido, nenhum sorriso e nenhuma lágrima. Por mais que a nossa vida seja longa, parecerá que foi apenas um sopro. E que a criação não parou no sexto dia do Génesis, mas continuou incansável, porque Deus se preocupou sempre connosco.  Até ao dia em que tudo for compreendido, na manhã da qual se extinguirá a lágrima, no mesmo instante em que Deus pronunciará a sua última palavra de bênção: «Eis o que diz o Senhor – Eu faço novas todas as coisas» (v.5). Sim, o nosso Pai é o Deus da novidade e da surpresa. E naquele dia seremos verdadeiramente felizes, e choraremos. Sim, choraremos de alegria.

Educris|23.08.2017

Tradução Educris a partir do texto original em italiano



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