Audiência-geral: «A Mãe da Esperança»

Na manhã de quarta-feira, e em vésperas de visitar o Santuário de Fátima onde vai canonizar os dois pastorinhos Francisco e Jacinta e participar no centenário das Aparições, o Papa Francisco continuou a série de audiências gerais onde tem apresentado o tema da esperança.

Disponibilizamos, na íntegra, o texto do Papa a partir do original em italiano. 

A esperança cristã - 21. A Mãe da Esperança

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No nosso itinerário de catequeses sobre a esperança cristã, olhamos hoje para Maria, Mãe da esperança. Maria passou por mais do que uma noite no seu caminho de mãe. Desde a primeira vez que a vemos na história dos Evangelhos, a sua figura destaca-se como se fosse uma personagem de um drama. Não era fácil responder com um "sim" ao convite do anjo: mas ela, a mulher ainda na flor da juventude, responde com coragem, embora não sabia nada sobre o destino que a aguardava. Maria, naquele momento, aparece-nos como uma das muitas mães do nosso mundo, corajosas até ao extremo quando se trata de acolher no seu ventre a história de um novo homem nasce.

Aquele "sim", é o primeiro passo numa longa lista de obediência - a longa lista de obediência! – que a acompanhará no seu itinerário de mãe. Deste modo Maria aparece nos Evangelhos como uma mulher tranquila, que muitas vezes não compreende tudo o que acontece à sua volta, mas que medita cada palavra e cada acontecimento no seu coração.

Com esta disposição percecionamos um belo retrato da psicologia de Maria não é uma mulher que se deprime com as incertezas da vida, especialmente quando nada parece seguir ao seu gosto. Não é mesmo uma mulher que proteste violentamente, atacando o destino da vida que muitas vezes revela uma face hostil. Inversamente é uma mulher de escuta: não se esqueça que há sempre uma grande relação entre a esperança e o escutar, e Maria é uma mulher que escuta. Maria aceita a existência como ela se nos apresenta, com os seus dias felizes, mas também com as suas tragédias com as quais nunca quisemos cruzar-nos. Até mesmo na noite suprema de Maria, quando o seu Filho é pregado no lenho da cruz.

Até mesmo nesse dia, no qual Maria quase desaparece na trama dos evangelhos: os escritores sagrados sugerem-nos este eclipse lento da sua presença, o seu permanecer em silêncio diante do mistério de um filho que obedece ao Pai. Maria, porém, reaparece apenas no momento crucial, quando a maioria dos amigos desapareceram por causa do medo. As mães não traem, e nesse instante, ao pé da cruz, nenhum de nós pode dizer o que foi a paixão mais cruel, se aquela que carrega um homem inocente que morre no patíbulo da cruz, ou a agonia de uma mãe que acompanha os últimos momentos da vida do seu filho. Os Evangelhos são lacónicos, e extremamente discretos. Registam com um simples verbo a presença da Mãe: Ela ‘estava’ (Jo 19,25), ela estava. Nada nos dizem acerca da sua reação: se chorava, se não chorava... nada; nem mesmo uma pequena nota que nos descrevesse a sua dor: nestes detalhes, se detiveram as imaginações dos poetas e pintores, dando-nos imagens que entraram para a história da arte e da literatura. Mas os Evangelhos só nos dizem que ela ‘estava’. Estava ali, no prior momento, no mais cruel momento, e sofria com o filho. ‘Estava’.

Maria ‘estava’, simplesmente permanecia ali. Ecoa novamente, a jovem de Nazaré, agora grisalha no cabelo pelo passar dos anos, ainda na presença de um Deus que só precisa ser abraçado, e com uma vida que e abeira do mais sombrio fim. Maria ‘estava’ na maior escuridão, mas ‘estava’. Não fugiu nem se escondeu. Maria está lá, fielmente presente, de cada vez que é necessária para manter uma vela acesa num lugar de névoa e neblina. Nem mesmo ela sabe o destino de ressurreição que o seu filho estava a tomar para todos nós os homens: Estava ali porque é fiel ao plano de Deus do qual se proclamou escrava no primeiro dia da sua vocação, mas também por causa do seu instinto de mãe que simplesmente sofre, cada vez que um filho atravessa a paixão. O sofrimento de mães: todos nós conhecemos mulheres fortes, que lidam com tanto sofrimento dos seus filhos!

 

Encontramo-la nos primeiros dias da Igreja, ela, a mãe da esperança, no meio daquela comunidade de discípulos assim tao fragilizados: um tinha-O negado, muitos fugiram, todos tinham tido muito medo (cf. Atos 1:14). Mas ela simplesmente estava ali, da maneira mais simples, como se fosse algo absolutamente natural: na Igreja primitiva envolvida pela luz da Ressurreição, mas também pelos temores dos primeiros passos que tiveram que dar no mundo.

 

É por isto que todos nós a amamos como mãe. Não somos órfãos: Temos uma Mãe no céu, que é a Santa Mãe de Deus. Porque nos ensina as virtudes da espera, mesmo quando tudo parece sem sentido: Ela permanece sempre confiante no mistério de Deus, mesmo quando Ele parece eclipsar-se por causa o mal do mundo. Em tempos de dificuldade, Maria, a Mãe de que Jesus nos ofereceu, possa sempre apoiar os nossos passos, possa sempre dizer aos nossos corações: "Levanta-te! Olha para diante, contempla o horizonte”, porque ela é a Mãe da esperança. Obrigado.

Tradução: Departamento de Comunicação SNEC a partir do original italiano 



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