«Sem Amor nada se ensina e ninguém aprende», Miguel Santos Guerra

Especialista em educação, desafiou os professores a melhorarem as práticas letivas que vão de encontro aos alunos de hoje.

Mais de 250 professores das Escolas Católicas de todo o país participaram hoje na Jornada Pedagógica promovida pela Associação Portuguesa de Escolas Católicas com o apoio do Secretariado Nacional da Educação Cristã.

«Ensinar o ofício de aprender» levou a Fátima o escritor e pedagogo espanhol Miguel Santos Guerra que pediu aos docentes a capacidade de “saírem das certezas que trazem das suas formações de base” e passem a “uma atitude de incerteza, fundamental para melhorar as práticas letivas”.

“Hoje as aprendizagens e as formações devem ter prazo de validade perante um mundo em profunda mudança”, considerou.

Para o autor de várias obras na área da avaliação e pedagogia, o trabalho de um professor “é a mais bela profissão do mundo por que nos permite entrar no mundo do outro” e isso deve implicar “uma melhoria de práticas” que vão ao encontro “do desejo de aprender dos alunos” mais do que “na necessidade de cada um mostrar que sabe muito de um determinado assuntos”.

“Durante a minha prática letiva e em todas as conferências que fui dando dei-me conta que a principal tentação de alguns conferencistas, como a de alguns professores, é o de estar mais preocupados em mostrar o que sabem do que com aquilo que os alunos aprendem”.

O desafio passa pela “melhoria de práticas” que tem de “despertar nos alunos o desejo de aprender” e isto “só pode acontecer quando conseguimos despertar o amor, por determinada verdade ou conhecimento, nos alunos”.

O amor como motor da aprendizagem

“Sem amor não podemos fazer nada. Podemos debitar matérias muito valorosas mas se o outro que está diante de nós não está enamorado nunca vai aprender”, constatou.

Miguel Santos Guerra explicou que a “profissão docente” tem de “deixar de lado alguns mitos e seguranças falsas” que foram construídas ao longo dos anos e tomar consciência “das consequências enormes na vida dos nossos alunos. Esta não é uma tarefa assética. Na educação joga-se a vida das pessoas. Não se trata de um passar de conteúdos neutros, mas de um compromisso assumido na formação de cada um”, explicou.

Para o autor de dezenas de livros sobre educação hoje torna-se fundamental “ser coerentes entre aquilo que afirmamos e aquilo que fazemos em sala de aula e na escola.

“Quando dissemos que queremos pessoas criativas e capazes de mudar o mundo não podemos permitir que os nossos alunos permaneçam sentados, amordaçados, em sala de aula. Isso aborrece qualquer um e o aborrecimento aparece por que não existe amor. Se não amamos não podemos ensinar o ofício de aprender”, constatou.

A mudança de um país faz-se no ensino

Num mundo “liquido” o especialista convidou os docentes “a serem autocríticos” e a convocarem “os seus alunos a esta capacidade de olhar critico sobre a realidade” por que só na descoberta de cada um de pode ensinar o oficio de aprender”.

“Não podemos viver de certezas por que estas nunca nos fazem avançar. Sem crítica uma instituição não avança. Numa escola onde os críticos são perseguidos e os bajuladores são endeusados a corrupção institucional cresce e vai fazer cair a escola”.

Para isso Miguel Santos Guerra considerou fundamental desenvolver “um espírito mais cooperativo entre os docentes e menos individualista” de modo a que possamos “saber para onde vamos independentemente da nossa tarefa especifica na instituição”.

Para isso o mudar de olhar passa por saber que “a educação não é uma simples instrução” de outro modo “a escola torna-se obsoleta e desnecessária”.

“Hoje temos de formar excelentes especialistas nas várias áreas, com uma formação técnica solida, que tem de ter na base uma clara educação nos valores. Estes profissionais devem estar instruídos e educados. A educação tem o pilar ético e o pilar técnico”.

“Não há conhecimento útil se não nos torna boas pessoas”, concluiu.

Da parte da tarde os docentes participam num workshop subordinado ao tema «a avaliação como aprendizagem».

Educris|28.06.2019



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