Scholas Occurentes: Mensagem do Papa aos jovens

Papa Francisco pediu "coerência de vida" e capacidade de "perceber a pertença a um povo, instituição ou família" na construção da identidade aos jovens das Scholas Occurrentes reunidos no III Encontro Mundial em Buenos Aires.

Leia, na íntega, a mensagem do Papa Francisco. 

Queridos jovens das Scholas Occurrentes , hoje reunidos aqui:

Quero celebrar convosco esta festa do encontro, encontro de pessoas: cada um de vós é uma pessoa. Encontro de diferentes credos, países, idiomas, realidades; encontro de identidades diferentes, porque para se reunir é preciso ter certezas sobre a sua própria identidade. Vós não podeis andar a negociar a vossa identidade para o encontro com o outro, não podeis maquilhar a vossa identidade, não a podeis disfarçar, porque a vida não é um carnaval, é muito mais seria. E um encontro tem de ser sério, com muita alegria, mas sério a partir do coração.

A palavra identidade não é fácil. E é a pergunta sobre "quem sou eu". E é uma das perguntas mais importantes que se pode fazer: diante de si, diante dos outros, diante de Deus, diante da história. Quem sou eu?

É a pergunta que acompanha a questão sobre o sentido da minha vida, quem eu sou e qual o significado da minha vida. Mas atenção, não é uma questão para descartar ou responder rapidamente ou esquecer. É uma questão para sempre manter, sempre. E mante-la em aberto, mante-la perto: eu, quem sou?

A nossa identidade não é um dado dado, não é um número de fábrica, não é uma informação que eu possa pesquisar na internet para saber quem eu sou. Nós não somos algo totalmente definidos, estabelecidos. Estamos em caminho, estamos em crescimento, e esse núcleo de identidade vai crescendo, crescendo, e vamos caminhando: estamos a crescer com o nosso próprio estilo, com uma história própria, com esse núcleo da nossa própria identidade. Somos testemunhas, somos editores e leitores das nossas vidas e não somos os únicos autores: somos o que Deus sonha para nós, que dizemos de nós mesmos, o que voltamos a dizer, o que outros dizem de nós, sempre e quando somos fiéis. Fieis à nossa integridade pessoal, fieis à nossa nobreza interior, fieis a uma palavra que as pessoas têm medo: fieis à coerência. Não existem identidades laboratoriais, não existem. Todas as identidades têm uma história. E tendo história, tem pertença. A Minha identidade vem de uma família, uma aldeia, uma comunidade. Vós não podeis, falar sobre identidade sem falar em pertença. Identidade é pertencer. Pertencer a algo que me transcende, algo maior que vós.

O perigo, tão presente nestes tempos é quando uma identidade esquece as suas raízes, esquece de onde vem, esquece a sua história, não se abrindo à diferença da convivência atual; vê o outro com medo, vê-o como um inimigo, e é aí que a guerra começa. Basta ler o jornal diário ou ver o noticiário: pequena guerra no princípio, quase imperecível, mas grande e terrível no final. Assim, para que a identidade não se torne violenta, não se torne autoritária, não negue a diferença, precisa constantemente do encontro com o outro, precisa de diálogo, necessita de crescer em cada encontro e precisa da memória da própria pertença. Quais são as minhas raízes? De onde venho? Qual é a cultura do meu povo? Não há identidades abstratas. Bem, haveria uma, que é o cartão do cidadão que é um papel. Mas essa não serve, essa não te faz crescer. No máximo, deixa-te tranquilo quando alguém da segurança te a pede:  "Chega, vai bem". Não há identidades de laboratórios, nem identidades paradas. Quem sou eu? Vamos perguntar a cada um de nós novamente. Vamos voltar ao caminho, crescer na estrada, com a memória, com o diálogo, com a pertença e com a esperança. E assim, enriquecer-nos mais a cada dia.

Identidade é pertença. Por favor, cuidem da própria pertença. Não se deixem enganar. Cuidem da própria pertença. É assim, quando vemos pessoas que não respeitam nada entre nós. Quantas vezes ouvimos dizer: "Não confies neste porque vende a própria mãe”.  Cada um se pergunte: eu vendo a minha pertença? Eu vendo a história do meu povo? Eu vendo a cultura do meu povo? Eu vendo a cultura e o que recebi da minha família? Eu vendo a coerência da vida? Vendo o diálogo com o irmão, mesmo que tenha ideias diferentes ou criou diálogos ficcionados? Não vendam o que é o nosso mais profundo, isto é, a pertença, a identidade e que no caminho há um encontro de diferentes identidades para o enriquecimento mutuo. Faz-se fraternidade.

Quero agradecer a todos aqueles que tornaram possível este encontro: pais e professores de cada um, por permitir e acompanhar; autoridades, por abrir a porta e permitir a experiência; Às escolas Bort e todas as comunidades religiosas por enriquecer, a partir da diversidade, a história deste encontro e de cada um. E obrigado, jovens das Scholas, por deixar que a vida lhes conte, a cada passo, um novo capítulo. Não tenhais medo disso. Por se animarem a misturar as suas línguas, abrir as suas histórias sem renunciar a elas, deixar-se reescrever pelo outro, pelo diferente, pelo desconhecido, sendo sempre diferentes e, ao mesmo tempo, sempre sendo cada vez vós mesmos. Fazendo da sua identidade, dessa pertença que receberam, uma obra de arte. É o que eu desejo para vós. E por favor, não esqueçam de orar por mim. Obrigado

Tradução Educris a partir do original em espanhol

Educris|02.11.2018



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