Setúbal: "A educação do coração deve ser a prioridade das nossas escolas"

Na manhã do passado sábado, dia 21 de janeiro, o bispo de Setúbal, D. José Ornelas, refletiu com os membros das Escolas Católicas do sul do país sobre os “desafios que se colocam à educação na atualidade” e o papel que deve “ser assumido pelas instituições da Igreja”

 

No início da sua reflexão, subordinada ao tema «Que desafios se colocam à escola católica como espaço de evangelização», o prelado começou por traçar um quadro acerca das mudanças que o mundo hoje atravessa, mutações essas que “são de estrutura e não de conjuntura”:

“O que está em causa hoje não é uma evolução simples de alguns conceitos e modos de proceder, mas uma mudança estrutural que mexe com valores, procedimentos, modos de pensar e de ser”, afirmou.

Perante um mundo “que tem tanto de estranho quanto de brilhante” torna-se necessário perceber, em termos de educação “de que não existem, ainda, soluções pré-feitas. Estamos num ambiente global que nunca tínhamos visto antes. Os paradigmas do passado já não servem e ainda não se encontram outros que possam servir”, sustentou.

Igreja: ADN de educadora e sempre em mudança

Olhando, em seguida, para o papel da Igreja neste mundo em mudança D. José Ornelas evocou a história para lembrar que a tarefa “educativa está no ADN da Igreja” porquanto convoca o ser humano “a construir o seu presente em conjunto”:

“Se educar é preparar para a sociedade a educação não se pode ficar pela existência de um conjunto de instituições estanques porque, deste modo, perder-se-á a noção de conjunto”.

Para o prelado é fundamental tomar consciência de “não existem receitas feitas em matéria educativa” e isso faz com que se perceba, “como nos dizia o Papa Francisco, que ‘não se podem responder a problemas de hoje com respostas de ontem’”.

Para o bispo de Setúbal “a estabilidade educativa vai ser a própria mudança” e a capacidade “de inovar constantemente sendo fiel às origens, aos carismas” vai marcar a diferença.

Perante uma mudança estrutural D. José Ornelas chamou a atenção para aqueles “que com medo do futuro e com a incerteza do presente pretendem levar-nos de volta ao passado”:

“Não devemos te medo da mudança porque esta não é nova para a Igreja. A Igreja sempre foi peregrina e sempre foi agente de mudança. Se não muda não serve para nada, basta recordarmos o sal e o seu fim, como aliás nos diz o evangelho”, afirmou.

 

Desafios da Educação Católica num mundo em mudança

Na terceira parte da sua reflexão o bispo de Setúbal apresentou, aos presentes, um conjunto de desafios que se colocam à Educação Católica.

O primeiro desafio é o de ensinar num mundo “secularizado”. Para D. José Ornelas as Escolas Católicas “não devem ter saudades dos estados confessionais porque estes acabam mal. Hoje sentimo-nos muito bem num estado que seja laico, pluralista e respeitador da diversidade. É aqui que queremos estar e por isso propomos uma educação na mesma linha sem perdermos a identidade de sermos cristãos”, sustentou.

Um segundo desafio é o de “resistirmos à tentação da ditadura na educação”. Neste ponto o prelado lembrou que “todas as grandes revoluções culturais contruíram o seu próprio sistema educativo”. Estando o tempo presente numa mudança estrutural é fundamental olhar “os ensinamentos da história e perceber que um estado que não promova uma diversidade educativa acaba por converter-se num estado ditatorial”, afirmou. Para D. José Ornelas as Escolas Católicas devem ser laboratórios na construção de uma sociedade justa, solidária e em paz que possa construir cultura”.

“Educar para a participação, para a alteridade, para a humanidade” foi o terceiro desafio deixado às Escolas Católicas:

“As nossas escolas devem ser cristãs e, por isso mesmo, laboratórios de valores e atitudes evangélicas que, por si mesmas, não são sectárias, limitativas ou fanáticas”. Deste modo devem estimular-se novos modelos que preparem as crianças a sentirem-se responsáveis pelos outros que os rodeiam percebendo aí a importância e riqueza da diversidade na construção da casa comum da humanidade”, afirmou.

Um quarto desafio é “a partilha do pão do saber e da cultura”:

“Necessitamos profetas, que mostrem caminhos novos, e de comunidades autênticas pois não se cria cultura nova com uma só pessoa. A escola católica, as universidades são as bases fundamentais para a construção da cultura”. Neste sentido é fundamental ter memória D. José Ornelas convidou os presentes a “terem memória” e a perceberem que “a multiplicação do pão é o principio da revolução evangélica.  Na escola o pão é o da cultura, do saber do poder colaborar” e isso deve constituir-se como “um desafio que tem de ser recriado em cada momento de modo a gerar justiça e não desigualdade de oportunidades”:

“A nossa escola tem de ter um lugar para os mais necessitados. Para os emigrantes, um papel marcante na sua integração. E isso implica sermos criativos de modo a gerar autossuficiência também a nível económico”, reiterou.

O Desafio da excelência, ou a arte de educar o coração

No sexto desafio deixado aos professores o bispo de Setúbal começou por recordar o lugar do coração na tradição bíblica:

“Para a Bíblia o coração é, antes de mais, o lugar da sabedoria, o sitio onde todas as dimensões da pessoa se reúnem na sua integralidade,”. Deste modo, sustentou, que se “o essencial da mensagem cristã é o amor então a educação do coração tem de ser prioridade das nossas escolas”, não como uma imposição, mas “como uma conjugação de verbo” na consciência de que “o amor é a sumula do ato educativo porque nos abre aos outros e faz-nos trilhar caminhos novos”.

 

A 1ª edição das Jornadas Locais das Escolas Católicas contou com a participação de 16 escolas de quatro dioceses do sul de Portugal num total de 60 pessoas. A iniciativa é uma organização conjunta do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), através do Departamento das Escolas Católicas, e dos responsáveis diocesanos da escola católica das dioceses envolvidas.

A próxima Jornada local vai realizar-se no dia 4 de fevereiro, no Colégio Via Sacra, em Viseu, e conta com a presença de D. Idílio Leandro, bispo de Viseu, e com as escolas católicas das dioceses de Aveiro, Guarda, Lamego, Vila Real e Viseu.



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