A Páscoa do Natal

Se se viver inteiramente por este novo reino que é Natal ser-se-á feliz. Fecundamente alegre. Ainda que se ande entre cá e lá. Entre o que é deste mundo e o que de outro mundo. Do mundo de Deus, viver de amor. O horizonte é outro. Do que se fala é outra coisa. O que nos preocupa é outra coisa. O desprendimento é difícil se o nosso horizonte for o chão. Egoísmo. Onde ainda, pré-historicamente se luta pela sobrevivência. A ver como Jesus nos revê-la como que no berço, na infância da nossa humanidade, que fomos criados para a supra-vivência, para sermos de natureza humana e divina, como Ele.

Seria uma presunção, perante milhões de anos de humanidade que estão em devir, frustrarmo-nos por não vermos todos os frutos do Reino neste nosso tempo de vida. Tempo biológico. A vida é maior. É maior que nós. A Vida é outra coisa. O Natal é outra coisa. É páscoa. E só nos apercebemos disto minimamente quando nos sabemos achados no seio de uma grande história de amor que nos ultrapassa. Daí que tudo o mais criado, todo o evento quotidiano, não é senão, oportunidade de nos assemelharmos ao Pai, à semelhança de Jesus, no contexto desta história de amor. Santificarmo-nos. Desculparmo-nos é encravar, atrasar a felicidade em nós. Tudo é “uma seca” quando em nós algo está seco. Em caso de dúvida escolhe-se o que Deus escolheria. Ter tudo isto como um processo deveras difícil é sinal de que no nosso horizonte nos vemos singularmente a nós. Veremos por isso, agora e depois, na medida do nosso tamanho, na medida da amplitude e profundidade da nossa fé. Os santos são os amigos de Deus. E os verdadeiros amigos de Deus não sabem que são santos. Pensar apenas na nossa vida é perder alegria,

porque a nossa alegria é receber a vida de Deus pela Sua misericórdia.

Ser misericordioso é, logo à partida, assumir todas as derrotas, todas as perdas, recuar, para avançar.
Quando sofremos, acabamos sempre por nos lembrar do amor que nos foi dado gratuitamente, noutros tempos, em que porventura não estávamos capazes de nos deixar amar. Orgulho. O orgulho sucede no cúmulo da intolerância, que por sua vez é uma arma da insegurança. Mas a confiança poderá ter uma força transformadora ainda maior que a intolerável insegurança do orgulho. Aí se revelam, pelo silêncio, muitas das respostas a perguntas que nem sabíamos ter. Aqui, deixarmo-nos amar. É Natal desconcertante, mas Natal. Nós não somos a experiência da nossa idade. Somos a experiência do que amámos. Nós somos a experiencia da nossa cruz. Do Natal verificado. Pelo que, chega a Deus aquele que parte de Deus.

A Alegria é o próprio Deus. A alegria de Deus somos nós.
É o Filho em nós e nós no Filho pelo Espírito Santo, é ser Pai.
A nossa Alegria é o próprio Deus. É o Filho em nós e nós no Filho pelo Espírito Santo, é sermos Filhos.
É a sagrada Família. A páscoa do Natal.

Luís Bacalhau


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