Covid19: Papa lembra pobres e reza pelos presos (C/vídeo)

Francisco lembrou sobrelotação das cadeias e pediu criatividade para resolver o problema

“Penso num grave problema que existe em várias partes do mundo. Gostaria que hoje rezássemos pelo problema da superlotação das prisões. Onde há uma superlotação – muita gente junta– há o perigo, nesta pandemia, de que se acabe numa grave calamidade. Rezemos pelos responsáveis, por aqueles que devem tomar as decisões, a fim de que encontrem um caminho justo e criativo para resolver o problema”, apelou o papa no início da eucaristia a que presidiu na casa de Santa Marta, no Vaticano.

Na sua homilia, e tomando para reflexão a passagem em que Maria unge os pés de Jesus, o que provoca a ira de Judas, e a conclusão, por parte dos fariseus, de que era necessário “matar também Lázaro”,  Francisco recuperou a ideia da “tentação” que havia apresentado na homilia do passado sábado.

“Há uns dias vimos os passos da tentação: a sedução inicial, a ilusão, o seu crescimento– segundo passo – e terceiro, cresce e contagia-se de tal modo que se autojustifica. Mas há outro passo: segue sempre em frente, não se detém. Para eles não era suficiente matar Jesus, mas agora também Lázaro, porque era uma testemunha de vida”, disse o papa citado pelo serviço de comunicação do Vaticano.

Pensar nos pobres ou usar os pobres

Para o Papa a “ira de Judas” não acontece porque se preocupa com os pobres, mas porque “é um administrador infiel”, algo que “continua a ser atual”.

“Esta história do administrador infiel é sempre atual. Estão sempre presentes. Pensemos em algumas organizações de beneficência ou humanitárias que têm muitos funcionários, muitos, que têm uma estrutura tão dispendiosa que acaba por chegar apenas quarenta por centro do dinheiro aos pobres porque o restante, sessenta por cento, serve para pagar o salário destas pessoas”, afirmou.

Para Francisco este “é um modo de apropriar-se do dinheiro dos pobres. Mas a resposta é Jesus. E aqui gostaria de deter-me: «De facto, os pobres, sempre os tereis convosco». Os pobres existem e são muitos”, lamentou.

“Muitos dos pobres estão escondidos, não os vemos. Isso cria uma cultura da indiferença que é negacionista sobre a realidade. Ou provoca o costume de achar normal a existência de pobres como se fosse ‘decorações’ da cidade”, apontou.

Pobreza: resultado visível das políticas económicas

O papa lamentou que “uma grande parte dos pobres” seja resultado e vítima “das políticas económicas, das políticas financeiras” que permitem “que muito dinheiro estejam nas mãos de poucos”.

“Esta pobreza é a pobreza de muita gente vítima da injustiça estrutural da economia mundial. E (há) muitos pobres que sentem vergonha de mostrar que não conseguem chegar ao final do mês: muitos pobres da classe média, que vão às escondidas à Caritas e de modo escondido pedem com vergonha”, denunciou.

Francisco recordou, então, uma história, de um conjunto de famílias de Buenos Aires que tinham ocupado uma parte de uma fábrica abandonada onde ele mesmo foi.

“Eram famílias com crianças e cada uma tinha ocupado uma parte da fábrica abandonada, para viver. E, olhando, vi que cada família tinha móveis bons, móveis da classe média, tinham a televisão, mas acabaram ali porque não podiam pagar o aluguer das habitações. Os novos pobres que deixam as casas porque não podem pagá-las vão para ali. Isto acontece pela forma como nos organizamos de maneira económica. E muitos vamos reencontrá-los no juízo”, denunciou.

Juízo final: as obras de misericórdia

O Papa lembrou que “perante Jesus seremos julgados pela nossa relação com os pobres”.

“Mas se eu, hoje, ignoro os pobres, deixando-os de lado, creio que (eles) não existem, o Senhor vai ignorar-me no dia do juízo. Quando Jesus diz: «Os pobres, sempre os tereis convosco», significa: ‘Eu estarei sempre convosco nos pobres. Ali estarei presente. E isso não é ser comunista, esse é o centro do Evangelho: nós seremos julgados sobre isto”, terminou.

Educris|06.04.2020



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