Audiência-geral: «No nosso Getsémani confiemos no Pai»

Na véspera do Tríduo Pascal o Papa Francisco interrompeu as suas catequeses sobre o Pai Nosso para convidar os fiéis a refletirem sobre os momentos finais de Cristo. O papa desafiou os crentes a seguirem o exemplo de Jesus que "na maior provação" confia ao seu "Getsémani ao Pai" pois a "oração é relacionamento e confiança".

Leia, na íntegra, a alocução do Santo Padre

Catequese - Páscoa: Na prova a oração ao Pai

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Nestas semanas temos vindo a refletir sobre a oração do "Pai Nosso". Agora, na véspera do Tríduo Pascal, vamos deter-nos nalgumas palavras com as quais Jesus, durante a Paixão, orou ao Pai.

A primeira invocação ocorre após a Última Ceia, quando o Senhor, «levantando os olhos ao céu, disse: "E agora Tu, ó Pai, manifesta a minha glória junto de ti, aquela glória que Eu tinha junto de ti, antes de o mundo existir” (Jo 17, 5,5). Jesus pede a glória, um pedido que parece paradoxal quando a Paixão está à porta. Que glória é esta? A Glória na Bíblia indica a revelação de Deus, é o sinal distintivo da sua presença salvadora entre os homens. Agora, Jesus é quem mostra a presença e a salvação de Deus de uma forma definitiva, e fá-lo na Páscoa: exaltado na cruz, é glorificado (cfr Jo 12, 23-33). Ali Deus finalmente revela a sua glória: retira o último véu e surpreende-nos como nunca antes. Na verdade, descobrimos que a glória de Deus é toda amor: amor puro, louco e impensável, além de todos os limites e medidas.

Irmãos e irmãs, façamos nossa a oração de Jesus: peçamos ao Pai que retire os véus dos nossos olhos para que nestes dias, diante do Crucifixo, possamos aceitar que Deus é amor. Quantas vezes o imaginamos como um mestre e não como um pai, quantas vezes pensamos nele como um juiz severo em vez de um misericordioso Salvador! Mas Deus na Páscoa clarifica a distância, mostrando-se na humildade de um amor que exige o nosso amor. Nós, portanto, damos-lhe glória quando vivemos tudo o que fazemos com amor, quando fazemos tudo com o coração, como por Ele (cfr. Cl 3, 17). A verdadeira glória é a glória do amor, porque é a única que dá vida ao mundo. É claro que esta glória é o oposto da glória mundana, que vem quando alguém é admirado, elogiado, aclamado: quando estou no centro das atenções. A glória de Deus, por outro lado, é paradoxal: sem aplausos, sem audiência. No centro não existe o ego, mas o outro: na Páscoa, vemos que o Pai glorifica o Filho enquanto o Filho glorifica o Pai. Ninguém se glorifica. Podemos perguntar-nos hoje: "Para que serve a glória pela qual vivo? Minha ou de Deus? Eu só quero receber dos outros ou antes doar-me aos outros? "

Depois da Última Ceia, Jesus entra no jardim do Getsémani; também aqui ele ora ao Pai. Enquanto os discípulos não conseguem ficar acordados e Judas está a chegar com os soldados, Jesus começa a sentir «medo e angústia». Experimenta toda a angústia pelo que o espera: traição, desprezo, sofrimento, fracasso. Está «triste» e ali, no abismo, naquela desolação, dirige ao Pai a palavra mais terna e doce: "Abba", isto é, pai (cf. Mc 14, 33-36). Na prova, Jesus ensina-nos a abraçar o Pai, porque na oração a Ele existe a força para continuar a sofrer. Na fadiga, a oração é alívio, confiança e conforto. No abandono de todos, na desolação interior, Jesus não está só, ele está com o Pai. Em vez disso, no nosso Getsémani, muitas vezes escolhemos ficar sozinhos em vez de dizer "Pai" e confiarmo-nos a Ele, como Jesus, confiar-nos à sua vontade, que é o nosso verdadeiro bem. Mas quando estamos fechados em nós mesmos na provação cavamos um túnel interior, um caminho doloroso introvertido que tem uma única direção: cada vez mais profundamente em nós mesmos. O maior problema não é a dor, mas como ela é tratada. A solidão não oferece saída; a oração sim, porque é relacionamento, é confiança. Jesus confia totalmente e entrega-se ao Pai, trazendo-lhe o que ele sente, apoiando-se nele na luta. Quando entramos em nosso Getsémani - cada um de nós tem o nosso próprio Getsémani ou já teve ou terá ainda – lembremo-nos disto: quando entramos, quando entramos no nosso Getsémani, lembremo-nos de orar assim: "Pai".

Por fim, Jesus dirige ao pai uma terceira oração por nós: «perdoa-lhes ó pai, porque não sabem o que fazem» (Lc 23,34). Jesus reza por aqueles que foram maus para com ele, os seus assassinos. O Evangelho especifica que esta oração realiza-se no momento da crucificação. Foi provavelmente o momento da dor mais aguda, quando os pregos foram cravados a Jesus nos pulsos e pés. Aqui, no cume da tristeza, o amor chega a um clímax: o perdão chega, isto é o dom na enésima potencia, que rompe o círculo do mal. Queridos irmãos e irmãs, ao rezarmos, poe estes dias, o “Pai-Nosso”, possamos pedir uma destas graças: viver os nossos dias para a glória de Deus, isto é, viver com amor; Saber confiar-nos ao pai nas provações  e dizer "Papá" ao Pai e busrcar no encontro com o Pai o perdão e a coragem de perdoar. Ambas as coisas andam de mãos dadas. O pai perdoa-nos, mas dota-nos com a coragem de perdoar.

Tradução Educris a partir do original em Italiano

17.04.2019



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