Audiência-geral: A nova lei e os desejos do Espírito Santo

O Papa Francisco concluiu hoje, na Sala Paulo VI, as audiências-gerais sobre os 10 mandamentos. Na sua catequese afirmou que o decálogo é uma "radiografia, em espelho" do próprio Jesus e que nele "o não" da narrativa do decálogo deixa de ser condenação e leva o crente a "contemplar a Cristopara receber os seus desejos, para receber o seu Espírito Santo".

Leia, na íntegra, a alocução do Santo Padre

Catequese sobre os Mandamentos, 14-B: A nova lei em Cristo e os desejos segundo o Espírito

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Na catequese de hoje, que conclui o caminho sobre os Dez Mandamentos, podemos usar como questão-chave a ideia dos desejos, que nos permitem voltar a fazer o caminho percorrido e resumir o caminho percorrido com a leitura do texto do Decálogo, sempre à luz da revelação plena em Cristo.

Partimos da gratidão como base da relação de confiança e obediência: Deus, vimos, não pede nada antes de ter dado muito mais. Ele convida-nos à obediência de modo a remir-nos do engano das idolatrias que têm tanto poder sobre nós. Na verdade é o buscar a própria realização nos ídolos deste mundo que nos esvaziam e nos escravizam, ainda que o que dê consistência seja a relação com Ele, em Cristo, porque nos torna filhos a partir da sua paternidade (cf. Ef 3,14-16 ).

Isto implica um processo de bênção e libertação, do que é verdadeiro, e de um autêntico repouso. Como diz o Salmo: «Só em Deus repousa a minha alma: dele a minha salvação» (Sl 62: 2).

Esta vida libertada tornar-se acolhida na nossa história pessoal e reconcilia-nos com o que, desde a infância até o presente, temos experimentado, tornando-nos adultos capazes de dar o devido peso às realidades e pessoas presentes na nossa vida. Por este caminho entramos na relação com o próximo que, a partir do amor que Deus mostra em Jesus Cristo, é um chamamento à beleza da fidelidade, generosidade e autenticidade.

Mas para viver bem - que é a vida na beleza da fidelidade, generosidade e autenticidade - precisamos de um coração novo, habitado pelo Espírito Santo (cf. Ez 11:19; 36:26). Eu pergunto-me: como fazer este “transplante” de coração, do velho coração para o novo coração? Através do dom dos novos desejos (Rm 8,6), que são semeados em nós pela graça de Deus, especialmente através dos Dez Mandamentos realizados por Jesus, como Ele ensina no "Sermão da Montanha" (cf. Mt 5: 17-48). Na verdade, na contemplação da vida descrita pelo Decálogo, ou seja uma existência grata, livre, autêntica, abençoada, adulta, guardiã e amante da vida, fiel, generosa e sincera, nós, quase sem nos apercebermos, encontramo-nos diante de Cristo. O Decálogo é a sua "radiografia", descreve-o como um negativo fotográfico que deixa transparecer o seu rosto - como no Santo Sudário. E assim o Espírito Santo torna fecundo o nosso coração colocando nele os desejos que são seu dom, os os desejos do Espírito. Desejar de acordo com o Espírito, desejar no ritmo do Espírito, desejar com a música do Espírito.

Olhando para Cristo, vemos beleza, bondade e verdade. E o Espírito gera uma vida que, seguindo esses desejos, desencadeia esperança, fé e amor em nós.

Deste modo percecionamos melhor sobre o que significa que o Senhor Jesus não tenha vindo  para destruir a lei, mas para cumpri-la, para que ela cresça, e ainda que a lei segundo a carne tivesse uma série de prescrições e proibições, no Espírito, essa mesma lei torna-se vida ( Jo 6:63; Ef 2:15), porque não é uma norma, mas a carne de Cristo, que nos ama, nos procura, nos perdoa, nos conforta, e no seu corpo recupera a comunhão com o Pai, perdida pela desobediência do pecado. E assim a negatividade literária, a negatividade na expressão dos mandamentos – “não roubar” “não insultar” “não matar” '- aquele ' não transforma-se numa atitude positiva: amar, dar espaço aos outros no meu coração, todos os desejos que semeiam positividade. E esta é a plenitude da lei que Jesus veio trazer-nos.

Em Cristo e somente Nele, o Decálogo deixa de ser condenação (cf. Rm 8,1) e torna-se a verdade autêntica da vida humana, que é o desejo de amor - aqui nasce um desejo de bem, para fazer o bem - desejo de alegria, desejo de paz, magnanimidade, benevolência, bondade, fidelidade, mansidão, autocontrole. Daqueles "não" passamos a este "sim": a atitude positiva de um coração que se abre com o poder do Espírito Santo.

Aqui está o porquê de procurar Jesus no Decálogo: o fecundar os nossos corações, para que se encham de amor, e se abram às obras de Deus. Quando o homem faz a vontade ao desejo de viver de acordo com Cristo, então abre-se a porta para a salvação, à qual sozinho não pode chegar, porque Deus é Pai generoso e, como diz o Catecismo, «tem sede de que nós tenhamos sede dele» (n. 2560).

Se são os maus desejos que arruínam o homem (cf. Mt 15,18-20), o Espírito estabelece nos nossos corações os seus desejos santos, que são as sementes da nova vida (cf. 1 Jo 3,9). Na verdade a nova vida não é o esforço hercúleo para ser consistente com uma norma, mas a nova vida é o Espírito do próprio Deus que inicia começando a guiar-nos na direção dos frutos, numa feliz sinergia entre a alegria de ser amado e a alegria de amar os outros. Encontram-se assim as duas alegrias: A alegria de Deus em amar-nos a nossa alegria de ser amados.

Aqui está o Decálogo para nós cristãos: contemplar a Cristo para nos abrir e receber o seu coração, para receber os seus desejos, para receber o seu Espírito Santo.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|28.11.2018



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