Audiência-geral: «Não Roubar» ou o convite ao amor através dos bens

Na catequese desta manhã sobre os mandamentos o Papa Francisco explicou o sentido mais profundo do mandamento «Não Roubar». O Papa lembrou a doutrina social da Igreja, sobre a questão dos bens, e deixou o convite: "a vida não é o tempo para possuir, mas para amar".

Leia, na íntegra, a Catequese do Papa Francisco 

Catequese sobre os mandamentos, 12: Não Roubar!

 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Continuando a explicação do Decálogo, hoje chegamos à Sétima Palavra: "Não roubar".

Ao ouvir este mandamento, pensamos no roubo e no respeito pela propriedade dos outros. Não há cultura em que o roubo e o abuso de bens sejam legais; De facto, a sensibilidade humana é muito suscetível à defesa da posse.

Mas vale a pena abrirmo-nos a uma leitura mais ampla desta Palavra, concentrando-nos no tema da propriedade dos bens à luz da sabedoria cristã.

Na doutrina social da Igreja, falamos de destino universal dos bens. O que significa isto? Escutemos o que o Catecismo diz: «No princípio, Deus confiou a terra e os seus recursos à gestão comum da humanidade, para cuidar dela, para dominá-la com o seu trabalho e desfrutar dos seus frutos. Os bens da criação estão destinados a toda a humanidade» (n. 2402). E ainda: «O destino universal dos bens continua a ser primordial, mesmo que a promoção do bem comum exija respeito à propriedade privada, o direito a ela e ao seu exercício" (no. 2403). [1]

A providência, no entanto, não organizou um mundo "em série", existem diferenças, condições diferentes, culturas diferentes, deste modo pode viver-se provendo a uns e a outros. O mundo é rico em recursos para garantir a todos os bens primários. No entanto, muitos vivem na pobreza escandalosa e os recursos, usados ??sem critérios, estão a deteriorar-se. Mas o mundo é um só! A humanidade é uma só! [2] A riqueza do mundo, hoje, está nas mãos da minoria, de uns poucos, e a pobreza, até mesmo a miséria e o sofrimento, de tantos, da maioria.

Se há fome na terra, não é porque falta comida! De facto, para as necessidades do mercado chega-se mesmo a destruir essa comida, a queimá-la. O que falta é um empreendedorismo livre e previdente, que garanta uma produção adequada e uma abordagem solidária, que garanta uma distribuição justa. O Catecismo também diz: «O Homem, usando os bens criados, deve considerar as coisas externas que legitimamente possui, não apenas como suas, mas também como comuns, no sentido de que elas podem beneficiar não apenas a ele, mas também os outros» ( No. 2404). Toda a riqueza, para ser boa, deve ter uma dimensão social.

Nesta perspetiva surge o significado positivo e amplo do mandamento "não roubar". «A posse de um bem torna aquele que é dono um administrador da Providência» (ibid.). Ninguém é o mestre absoluto da propriedade: é um administrador de propriedade. A posse é uma responsabilidade: "Mas eu sou rico em tudo ..." - esta é uma responsabilidade que tu tens. E todo o bem removido da lógica da Providência de Deus é atraiçoado, afastado do seu sentido mais profundo. O que eu realmente possuo é o que eu posso dar. Esta é a medida para avaliar como administro a riqueza, seja ela boa ou má; esta palavra é importante: o que eu realmente possuo é o que posso dar. Se eu posso dar, sou aberto, então sou rico não só no que possuo, mas também na generosidade, na generosidade também como dever de dar riqueza, para que todos possam participar. De facto, se eu não posso dar alguma coisa, é porque essa coisa me tem, tem poder sobre mim e eu sou um seu escravo. A posse de bens é uma oportunidade para multiplicá-los com criatividade e usá-los com generosidade e, assim, crescer em amor e liberdade.

O próprio Cristo, apesar de ser Deus, "não considerou como uma usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo» (Fl 2, 6-7) e enriqueceu-nos com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9).

Enquanto a humanidade luta para ter mais, Deus a redime tornando-se pobre: aquele Homem Crucificado pagou por todos um inestimável resgate da parte Deus Pai, «rico em misericórdia» (Ef 2, 4; cfr Gn 5,11). O que nos torna ricos não são os bens, mas o amor. Tantas vezes ouvimos o que o povo de Deus diz: "O diabo entra pelos bolsos". Começamos com o amor ao dinheiro, a fome de possuir; então vem a vaidade: "Ah, eu sou rico e tenho orgulho"; e, no final, orgulho e soberba. Este é o modo do diabo agir em nós. Mas a porta da frente são os bolsos.

Queridos irmãos e irmãs, mais uma vez Jesus Cristo revela-nos o pleno significado das Escrituras. «Não roubar» significa: ama com os teus bens, aproveita os teus meios para amar sempre um pouco mais. Então a sua vida torna-se boa e a posse torna-se verdadeiramente um presente. Porque a vida não é o tempo para possuir, mas para amar. Obrigado.

Tradução Educris a partir do original em italiano

Educris|07.11.2018



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