CDCongo: Novos relatos de massacres

Morte, violência indiscriminada, autênticas barbaridades. O testemunho que Eugène Muhindo Kabung, seminarista dos Missionários Combonianos, em Kinsangani, enviou para a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre não deixa ninguém indiferente.

"É horrível, é mesmo um genocídio o que se está a passar na província do Kivu Norte e em particular nas cidades Beni-Lubero de onde sou natural: massacre de populações, violações de mulheres e crianças, raptos de crianças para fazer delas crianças-soldados. Desde 2009, este fenómeno aumenta de dia para dia. Desde então, vive-se autênticas barbaridades, onde muitas famílias foram massacradas e outras encontram-se num estado de pobreza e luto."

O relato deste seminarista, enviado para a Fundação AIS no passado sábado, dia 10 de Março, lança diversas questões sobre o papel da comunidade internacional e de diversas organizações como as Nações Unidas face à violência em curso neste país africano.

“Na minha família, em menos de um ano perdemos quatro membros, todos eles raptados e deles não há notícias. O mais certo é que tenham sido mortos à machadada, ou com catanas ou com outro tipo de armas brancas nas florestas vizinhas, como tem acontecido com centenas de pessoas.”

Eugène Muhindo Kabung pergunta, perplexo, o que está realmente a acontecer no Congo, particularmente em Kinshasa, Lubero e, sobretudo, Beni? “Pergunto para que servem os 17 mil soldados da ONU? O número de viúvas, de crianças órfãs aumenta de dia para dia, famílias inteiras são exterminadas…”

Assegurando que “não podemos ficar indiferentes quando as pessoas são mortas, violadas, sequestradas”, o seminarista comboniano que se encontra actualmente em Kinsangani, aproveitou esta mensagem para deixar “um apelo vibrante a toda a humanidade para que o fogo da caridade possa acender-se em cada pessoa para podermos construir um mundo mais humano e fraterno”. Que cada um se interrogue, pede Eugène, “acerca do que está a fazer pela paz no mundo. E assim, ouça, veja e aja. Que a misericórdia de Deus converta os inimigos da paz.”

Já na semana passada, a propósito da notícia do assassinato de um sacerdote na região do Kasai a Fundação AIS dava conta de diversos confrontos entre comunidades no nordeste da República Democrática do Congo, na região de Ituri, que provocaram dezenas de mortos e feridos.

O Padre Alfred Ndrabu Buju, director da Caritas Bunia, apontava para a existência de 49 mortos mas assegurava que esse número deverá ser mais elevado, pois continuavam então “à procura” dos corpos de outras vítimas.

Outro responsável, em declarações à agência France Press, afirmava que, numa aldeia, “os atacantes” provocaram “uma verdadeira carnificina”.

Leila Zerrougui, a nova representante especial do secretário-geral da ONU para República Democrática do Congo referiu-se à violência neste país como “uma das crises humanitárias mais graves no mundo”.

Na primeira intervenção no Conselho de Segurança desde que foi nomeada para o cargo, esta advogada argelina afirmou, na passada quarta-feira, dia 7 de Março, que a situação no terreno “continua a deteriorar-se e isso traz riscos de instabilidade para muitas partes do país, com ameaças sérias à população civil”.

Na ocasião, Leila Zerrougui condenou “os ataques persistentes dos vários grupos armados e milícias, o recrutamento de crianças, a violação de mulheres e meninas, o incendiar de casas e escolas, e a profanação de lugares de culto”.

Toda esta violência que se regista na República Democrática do Congo ocorre num tempo particularmente tenso, com uma crescente contestação social a Joseph Kabila, que persiste em manter-se no poder apesar de o seu mandato presidencial ter já expirado em Dezembro de 2016.

As manifestações que ocorreram até agora nas principais cidades da República Democrática do Congo têm merecido o apoio da Igreja Católica e, apesar do seu carácter pacífico, têm sido objecto de uma resposta extremamente musculada por parte das autoridades.

Por diversas vezes, tal como a Fundação AIS já denunciou, as forças da polícia e do exército têm recorrido a gás lacrimogéneo e até balas reais para a desmobilização dos manifestantes.

Em consequência disso, há a registar um balanço trágico com mais de 17 mortos e largas dezenas de feridos e de detidos em resultado de todas as grandes manifestações realizadas até hoje contra o presidente Kabila: em 31 de Dezembro, 21 de Janeiro e, mais recentemente, a 25 de Fevereiro.

Educris|12.03.2018

Imagem: AIS

 



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