Audiência geral: "Jesus dá-nos a terapia da esperança"

Na manhã de quarta-feira o Papa Francisco continuou a série de audiências gerais onde tem apresentado o tema da esperança. Hoje o Papa apresentou o caminho de Emaús  como lugar de terapia da esperança.

Disponibilizamos, na íntegra, o texto do Papa a partir do original em italiano. 

A esperança cristã - 23. Emaús, o caminho da esperança

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje quero concentrar-se na experiência dos dois discípulos de Emaús, que que fala o Evangelho de Lucas (cf. 24,13-35). Imaginemos a cena: dois homens caminhando dececionados, tristes, convencidos a deixar para trás a amargura de um acontecimento que terminou mal. Antes da Páscoa estavam cheios de entusiasmo, convencidos de que esses dias seriam cruciais para as suas expectativas e esperanças de todo o povo. Jesus, a quem tinham confiado as suas vidas, parecia ter, finalmente, chegado à batalha decisiva: agora se manifestaria o seu poder, depois de um longo período de preparação e de ocultação. Isto era o que eles esperavam. E isto não aconteceu assim.

Os dois peregrinos cultivam uma esperança somente humana, que agora tinha ficado estilhaçada. Aquela cruz levantada no Calvário foi o sinal mais revelador do insucesso que não tinham previsto. Se de verdade aquele Jesus estava de acordo com o coração de Deus, eles concluíram que Deus ficou indefeso, impotente nas mãos dos violentos, incapaz de resistir ao mal.

Assim, naquela manhã de domingo, os dois fugiram de Jerusalém. Nos olhos ainda têm os eventos da paixão e morte de Jesus; e a alma dolorosa, quebrada por aqueles acontecimentos, durante o forçado repouso de sábado. Aquela festa de Páscoa, que deveria servir para entoar o cântico da libertação, tinha-se transformado no dia mais doloroso das suas vidas. Deixavam Jerusalém para ir em busca de um lugar, uma aldeia tranquila. Tem todo o aspet6o das pessoas que tentam remover da memória uma recordação que ainda queima. Caminham então pela estrada com um andar triste. Neste cenário – a estrada – já tinha sido importante no contexto das histórias dos evangelhos; agora tornar-se-á ainda mais importantes, no momento em que se começa a contar a história da Igreja.

O encontro de Jesus com os dois discípulos parece ser totalmente fortuito: aparece num dos muitos cruzamentos que acontecem na vida. Os dois discípulos marcham pensativos e um estranho junta-se a eles. É Jesus; mas os seus olhos não são capazes de reconhecê-lo. Então Jesus começa a sua \"terapia da esperança.\" O que acontece nesta estrada é uma terapia de esperança. Quem a faz? Jesus.

Primeiro pergunta e ouve: O nosso Deus não é um Deus invasivo. Mesmo que conheça já o motivo da desilusão daqueles dois, dá-lhes o tempo necessário para poderem sondar as profundezas da amargura que tomou conta deles. Nasce então uma confissão que é um autêntico refrão da existência humana: \"Nós esperávamos, mas...nós esperávamos, mas ...\" (v. 21). Quantas tristezas, quantas dores, quantas derrotas, quantas falhas que existem na vida de cada pessoa! No fundo todos temos um pouco destes dois discípulos. Quantas vezes na vida esperámos, quantas vezes nos sentimos à beira da felicidade, e depois acabámos prostrados no chão desapontados. Mas Jesus caminha com todas as pessoas desencorajadas que caminham com a cabeça para baixo. E caminhando com eles, de maneira discreta, trata de ir restaurando a esperança.

Jesus fala-lhes antes de tudo através das Escrituras. Tem toda nas suas mãos o livro de Deus não encontrará grandes histórias de heroísmos fácil, fulminantes campanhas de conquista. A esperança real não tem um baixo custo: atravessa sempre o caminho das derrotas. A esperança dos que não sofrem, talvez nem isso. A Deus não agrada ser amado como se fosse um líder que conduz o seu povo à vitória alimentado com o sangue dos seus inimigos. O nosso Deus é uma lâmpada que ainda fumega num dia frio e ventoso, e por isso parece frágil a sua presença no nosso mundo, Ele escolheu para si o lugar que todos os outros desdenharam.

Deste modo Jesus repete perante os dois discípulos o gesto chave de todas as eucaristias: toma o pão, abençoa-o, parte em pedaços e dá-o. Nesta sucessão de gestos, não está toda a história de Jesus? E não há, em cada Eucaristia, também o sinal do que deve ser a Igreja? Jesus toma-nos, abençoa-nos, ‘põe em pedaços’ a nossa vida - porque não há amor sem sacrifício - e oferece-a aos outros, oferece-a a todos.

É um encontro rápido, o de Jesus com os dois discípulos de Emaús. Mas aí se encontra todo o destino da Igreja. Mostra-nos que a comunidade cristã não está aprisionada numa cidade fortificada, mas caminha no seu ambiente mais vital o mesmo é dizer na estrada. Ali encontra as pessoas, com as suas esperanças e as suas desilusões, por vezes tão pesadas. A Igreja escuta as histórias de todos, à medida que surgem a partir do mais íntimo da consciência pessoal; para então oferecer a Palavra da vida, o testemunho do amor, amor fiel até ao fim. Então, o coração das pessoas volta a arder de esperança.

Todos nós, nas nossas vidas, temos momentos difíceis, escuros; momentos nos quais caminhamos tristes, pensativos, sem horizontes, onde se ergue à nossa frente um autêntico muro. E Jesus está sempre ao nosso lado para nos dar esperança, para aquecer o coração e dizer: \"Vai em frente, eu estou contigo. Vai em frente”. O segredo do caminho que conduz a Emaús é este: ainda que por meio das aparências em contrário, continuamos a ser amados, e Deus nunca deixará de nos querer bem. Deus caminhará sempre connosco, sempre, mesmo nos momentos mais dolorosos, mesmo nos priores momentos, mesmo nos momentos de derrota: Ali está o Senhor. E esta é a nossa esperança. Vamos em frente com esta esperança! Porque Ele está ao nosso lado e caminha sempre connosco!

Tradução: Educris a partir do original em italiano



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