Audiência-geral:«Cristo ressuscitado é a nossa esperança»

Na manhã desta quarta-feira o Papa Francisco continuou a série de audiências gerais onde tem apresentado o tema da esperança. Disponibilizamos, na íntegra, o texto do Papa a partir do original em italiano.

A esperança cristã - 19. Cristo ressuscitado é a nossa esperança (cf. 1 Cor 15)

Caros irmãos e irmãs, bom dia!

Estamos reunidos hoje à luz da Páscoa, que celebrámos e continuamos a celebrar com a Liturgia. Portanto, no nosso itinerário de catequeses sobre a esperança cristã, gostaria de falar-vos hoje de Cristo ressuscitado, a nossa esperança, como nos é apresentado por São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios (cf. cap. 15).

O Apóstolo quer resolver um problema que, definitivamente, na comunidade de Corinto estava no centro das discussões. A ressurreição é o último tema abordado na carta, mas provavelmente, em ordem de importância, é o primeiro: na verdade, tudo repousa sobre pressuposto.

Falando aos seus companheiros cristãos, Paulo a parte de um dado irrefutável, que não é o resultado de uma reflexão de um homem sábio, mas um facto, um facto simples que aparece na vida de algumas pessoas. O cristianismo nasce a partir daqui. Não é uma ideologia, não é um sistema filosófico, mas é um caminho de fé que começa a partir de um evento, testemunhado pelos primeiros discípulos de Jesus. Paulo resume-o desta forma: «Jesus morreu pelos nossos pecados, foi sepultado e no terceiro dia ressuscitou e apareceu a Pedro e aos Doze (cf. 1 Cor 15,3-5). Este é o facto: ele morreu, foi sepultado, ressuscitou e apareceu. Ou seja, Jesus está vivo! Este é o cerne da mensagem cristã.

Ao anunciar este acontecimento, que é o núcleo central da fé, Paulo insiste especialmente o último elemento do mistério pascal, o episódio da ressurreição de Jesus. Se, de facto, tudo acabou com a morte, Nele nós teríamos um exemplo de dedicação suprema, mas isto não é o suficiente, não é bastante para criar a nossa fé. Tornou-se um herói. Não! Morreu mas ressuscitou. Porque a fé nasce da ressurreição. Aceitar que Cristo morreu, e morreu crucificado, não é um ato de fé, é um facto histórico. Acreditar que ele ressuscitou é sim um ato de fé. A nossa fé nasceu na manhã de Páscoa. Paulo faz uma lista de pessoas a quem Jesus ressuscitado apareceu (cf. vv. 5-7). Temos aqui uma pequena síntese de todas as histórias de Páscoa e todas as pessoas que entraram em contacto com o Ressuscitado. No topo da lista estão Cefas, que é Pedro, e o grupo dos Doze, em seguida, "quinhentos irmãos" muitos dos quais ainda poderiam dar o seu testemunho, depois é citado Tiago. O último da lista - como menos digno de tudo - é ele mesmo. Paulo diz de si mesmo: "Como um aborto" (cf. v. 8).

Paulo usa esta expressão porque a sua história pessoal é dramática: ele não era um menino do coro, mas um perseguidor da Igreja, orgulhoso das suas convicções; sentia-se um homem realizado, com uma ideia muito clara sobre a vida e os seus deveres. Mas, neste quadro perfeito – tudo estava perfeito em Paulo, sabia tudo – neste quadro perfeito de vida, um dia dá-se um acontecimento que era completamente imprevisível: o encontro com Jesus ressuscitado no caminho de Damasco. Não vemos apenas um homem que caiu no chão: é antes uma pessoa apanhada por um acontecimento que é capaz de virar todo o sentido da vida. E o perseguidor torna-se um apóstolo, porquê? Porque eu vi Jesus vivo! Eu vi Jesus Cristo ressuscitado! Este é o fundamento da fé de Paulo, como a fé dos outros Apóstolos, como a fé da Igreja, da nossa fé.

É belo pensar que o cristianismo, na sua essência, é isto! Não é tanto a nossa busca de Deus - uma busca, em verdade, por vezes hesitante -, mas sim a busca de Deus nos nossos confrontos. Jesus prende-nos a si, agarra-nos, e conquistando-nos para não nos largar mais. Cristianismo é graça, é surpresa, e, portanto, pressupõe um coração capaz de se admirar. Um coração fechado, um coração apenas racional é incapaz de se maravilhar, e não pode entender o que é o Cristianismo. Porque o cristianismo é graça, e a graça somente se percebe, e ainda mais encontra-se no espanto do encontro.

E agora, continuamos pecadores – todos nós o somos - se os nossos bons propósitos permanecem no papel, ou ainda se, olhando para as nossas vidas, percebemos somámos tantos insucessos... Na manhã de Páscoa possamos fazer como aquelas pessoas de que fala o Evangelho: caminhar a sepulcro de Cristo, ver a grande pedra removida e pensar o que Deus está a construir para mim, para todos nós, um futuro inesperado. Andemos ao nosso sepulcro: todos nós temos um dentro de nós. Andemos até aí, e vejamos como Deus é capaz de reerguer-nos a partir daí. Aqui está a felicidade, aqui a alegria, vida, onde toda a gente pensava que só havia tristeza, derrota e escuridão. Deus faz levantar as mais belas flores no meio das pedras mais áridas.

Ser cristão significa não partir da morte, mas do amor de Deus por nós, que derrotou o nosso inimigo. Deus é maior do que qualquer coisa, e basta apenas uma pequena vela acesa para vencer a mais escura das noites. Paulo grita, fazendo eco dos profetas: "Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, a tua vitória?” (V. 55). Nestes dias de Páscoa, sejamos portadores deste grito no coração. E se nos perguntarem o porque do nosso sorriso e da nossa paciente partilha, podemos então dizer que Jesus permanece aqui, que continua a viver entre nós, que Jesus está aqui, na praça, connosco: vivo e ressuscitado.

Tradução: Educris a partir do original italiano



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