Porto: Identidade da Escola católica em análise

No passado dia 21 de Maio, no auditório das Pós-Graduações, do Centro regional do Porto da Universidade Católica Portuguesa, realizou-se mais uma edição do Seminário da Primavera, destinado aos professores e dirigentes das Escolas Católicas, tendo, desta vez, como tema de estudo “Ethos, liderança e identidade da Escola Católica”. O seminário formativo, apresentado pelo Presidente do Centro Regional do Porto, Manuel Afonso Vaz, e por José Matias Alves, Diretor Adjunto da Faculdade de Educação e Psicologia, contou com a participação do Bispo do Porto, Dom António Francisco dos Santos e com a divulgação de um estudo empírico sobre as práticas de liderança e identidade específica da Escola Católica, levado a cabo pelo Padre Amaro Gonçalo, no âmbito de um Mestrado em Ciências da Educação.

 

Escola Católica: não basta a qualidade, é necessária a diferença

Coube ao bispo do Porto tecer considerações, de grande beleza e profundidade, sobre “identidade, liberdade e qualidade na Escola Católica” a cujo trinómio acrescentou a “diferença”. Recordando os 50 anos da publicação da Declaração Conciliar “Gravissimum Educationis” (28.10.1965), sobre o dever gravíssimo da educação, e os 25 anos da Constituição Apostólica “Ex Corde Ecclesiae” de São João Paulo II, sobre a identidade e missão da Universidade Católica (15.08.1990), Dom António convidou as Escolas Católicas a tomar em suas mãos o documento “Educar hoje e amanhã: uma paixão que se renova” (7.04.2014). Trata-se de um Instrumento de Trabalho da Congregação da Educação Católica, fundamental para se proceder a uma avaliação quanto ao “ethos”, isto é, quanto à identidade específica, da Escola Católica.

 

D. António insistiu nessa diferença específica da Escola Católica, a partir da investigação produzida pelo Padre Amaro Gonçalo, que desenha, na sua dissertação de mestrado, agora publicada, as suas notas caraterísticas. E insistiu na “lógica da gratuidade” nas relações interpessoais e na importância de um projeto educativo, que marque a diferença, na forma como acolhe e desenvolve as potencialidades de cada aluno e como o prepara para uma nova sociedade, que se projeta e se deseja, no espírito das bem-aventuranças: «à Escola Católica não basta a identidade, a liberdade e a qualidade. É necessária a diferença”, porque a mesma “não é uma escola neutra nem um museu de coisas sagradas”.

 

Alertando que o futuro do cristianismo, passa pela formação cristã das novas gerações, e que esta depende, em muitos casos, da frequência da disciplina de EMRC e da missão evangelizadora da Escola Católica, o Bispo do Porto lamentou a falta de aposta da Igreja, em Portugal, em Escolas Católicas: «são 158 apenas» e há dioceses, como Santarém, que não têm uma única Escola Católica, referiu.

 

 

Na sua intervenção D. António alertou para a necessidade de contar com os pais, como verdadeiros atores, na defesa da Escola Católica, na luta pela liberdade de escolha, junto das entidades estatais, uma vez que, no atual quadro legal, em muitos casos, “os pais com filhos na Escola Católica pagam duas vezes a educação”. E desafiou os professores a serem “portadores desta identidade, protagonistas desta liberdade e construtores desta qualidade”, fazendo da educação “uma peregrinação da verdade, da bondade (da misericórdia) e da beleza”.

 

Apresentado por Joaquim Azevedo, D. António foi interpelado pelos presentes, sobre as notas da “diferença específica” exigida à Escola Católica para defesa da sua identidade própria. De referir, que nesta formação estavam presentes também o Presidente da APEC (Associação Portuguesa de Escola Católicas), Padre Querubim, o seu secretário, Jorge Cotovio, e a representante do SNEC para a Escola Católica, Elisa Urbano, num evento que foi  gravado para posterior divulgação pelo Educris.

 

Escola Católica, liderança e ethos, numa investigação de mestrado

 

Depois do intervalo, coube ao Padre Amaro Gonçalo partilhar com os presentes a Dissertação apresentada à Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa, para obtenção do grau de Mestre, em Ciências da Educação - Especialização em Administração e Organização Escolar - realizada em Outubro último, sob a orientação do Doutor José Joaquim Ferreira Matias Alves. A dissertação, em boa hora publicada em livro, pelas Edições Salesianas, foi apresentada pelo Orientador, Doutor Matias Alves, que enalteceu a excelência do trabalho, quer pela escolha do objeto de estudo, quer pelo rigor da investigação, quer pela elegância da redação, quer pelas conclusões prospetivas que oferece. Antes ainda, o autor do estudo revelara a sua “paixão pela educação” e esclarecera as motivações pastorais desta investigação. Das conclusões da investigação, ressaltou a importância da formação integral e transversal, não apenas de alunos e professores, mas também dos seus dirigentes, e a necessidade de formar os professores da Escola Católica numa mundividência e experiência cristãs, sem as quais está comprometida a sua real capacidade para fazer, na Escola Católica, uma síntese feliz entre fé, ciência e cultura, aspeto fundamental do seu ethos. Alertou ainda para o preconceito que existe, e deve ser vencido, quanto a uma participação mais ativa dos pais, na conceção, realização e avaliação dos projetos educativos da Escola Católica, em que estes são vistos mais como clientes do que como agentes educativos. Explicou o sentido dado à expressão liderança pastoral, cujo perfil desenha e advoga no seu estudo. Deixou ainda algumas pistas de ação e de investigação futuras, a partir do estudo feito, e dos desafios colocados aos professores e dirigentes da Escola Católica.

 

 

 

A sua intervenção foi muito apreciada e pode ser partilhada a partir da leitura do livro “Escola Católica, Liderança e Ethos”. No prefácio que escreveu para a publicação deste livro, Dom António Francisco dos Santos refere que se “trata primeiramente de um imprescindível serviço oferecido à causa do bem e de um belo exercício da própria missão da Igreja, que não se pode eximir a este permanente desafio de estar na vanguarda do que melhor se faz nesta arte de educar. A Igreja foi sempre pioneira nesta paixão pela educação e neste valioso serviço prestado, de formas diversas, à sociedade”. E termina o seu prefácio dizendo: “Ao colocar nas vossas mãos este livro, sei quanto ele nos pode ajudar a compreender que a missão de educar é um verdadeiro serviço pastoral que fascina e encanta. Servir a Escola Católica é uma insubstituível missão da Igreja, para bem dos alunos e das suas famílias”.

 

Uma publicação oportuna, um contributo importante

 

Num ano em que a Igreja se prepara para celebrar os 50 anos da Declaração Conciliar Gravissum Educationis, sobre a Educação Cristã, a apresentação ao público deste trabalho de investigação é um contributo, para a discussão sugerida pelo Instrumentum Laboris, elaborado pela Congregação da Educação Católica, intitulado: “Educar, hoje e amanhã, como uma paixão que se renova”. Sendo a primeira dissertação em Portugal, que usa a metodologia do estudo de caso, focalizada em dois colégios católicos, de duas ordens religiosas, o autor espera “que esta investigação possa contribuir para uma reflexão, que extravase o interesse destes dois colégios em particular, e ofereça uma outra luz, sobre a identidade específica da Escola Católica, e o papel que as lideranças diretivas têm na sua afirmação e desenvolvimento”.

 

Como se pode ler no resumo que precede a dissertação e a sua publicação, “o presente estudo procura identificar elementos constituintes do ethos da Escola Católica (educação integral e transversal, catolicidade e eclesialidade, ambiente educativo cristão), e a importância da liderança diretiva, na sua afirmação e desenvolvimento. É uma investigação qualitativa, baseada num estudo de caso, de duas escolas católicas, situadas na área geográfica do Grande Porto, em Portugal. Através da observação, predominantemente não participante, de entrevistas a diretores, de entrevistas focus group a professores e a alunos, procede-se a uma análise dos dados, de modo a inferir em que me medida há uma identidade e uma diferença específica na Escola Católica e como é que os diversos elementos dessa identidade se afirmam e desenvolvem, tendo em conta o tipo de liderança. Desenha-se uma liderança escolar, que se acaba por designar por liderança pastoral, em que “os diretores da Escola Católica devem também saber liderar os aspetos espirituais e pastorais” .

 

 

 

 Educris com padre Amaro lopes

 

 

 



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