Na mensagem enviada ao presidente do Fórum Económico Mundial que se reúne até ao próximo dia 24 de janeiro em Davos, Francisco afirmou que "é necessária um desevlvimento humano verdadeiramente integral" e pediu aos responsáveis políticos "ações" concretas que coloquem no centro das preocupações "a dignidade humana".
Leia, na íntegra, a mensagem do Papa Francisco aos participantes do do Fórum Económico Mundial em Davos.
Ao Professor Klaus Schwab
Presidente Executivo do Fórum Económico Mundial
Enquanto o Fórum Económico Mundial celebra o seu cinquentenário, envio os meus cumprimentos e votos de oração a todos os que participam no encontro deste ano. Agradeço o vosso convite para participar e solicitei ao cardeal Peter Turkson, prefeito do Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral, a presença como representante da Santa Sé.
Nestes anos, o Fórum Económico Mundial ofereceu uma oportunidade ao envolvimento das diferentes partes interessadas com vista à exploração de maneiras inovadoras e eficazes de construir um mundo melhor. Também proporcionou um espaço onde a vontade política e a cooperação mútua podem ser guiadas e fortalecidas para superar o isolacionismo, o individualismo e a colonização ideológica que infelizmente caracteriza demasiadamente o debate contemporâneo.
À luz dos desafios sempre crescentes e inter-relacionados que afetam o nosso mundo (cf. Laudato Si ', 138 ss.), o tema que consideraste para refletir neste ano - Partes Interessadas para um Mundo Coeso e Sustentável - aponta para a necessidade de um maior envolvimento em todos os níveis, a fim de abordar com maior eficácia as diversas questões que a humanidade enfrenta. Nas últimas cinco décadas, testemunhámos transformações geopolíticas e mudanças significativas, da economia e do mercado de trabalho à tecnologia digital e ao meio ambiente. Muitos desses desenvolvimentos beneficiaram a humanidade, enquanto outros tiveram efeitos adversos e criaram lacunas significativas no desenvolvimento. Embora os desafios de hoje não sejam os mesmos de há meio século atrás, vários permanecem relevantes quando começamos uma nova década.
A consideração primordial, que nunca deve ser esquecida, é que todos somos membros da família humana. A obrigação moral de cuidar uns dos outros decorre deste facto, assim como o princípio correlativo de colocar a pessoa humana, e não a mera busca de poder ou lucro, no centro das políticas públicas. Além disso, este dever cabe aos setores empresariais e aos governos e é indispensável na busca de soluções equitativas para os desafios que enfrentamos. Como resultado, é necessário ir além das abordagens tecnológicas ou económicas de curto prazo e considerar plenamente a dimensão ética na busca das resoluções a apresentar aos problemas ou às iniciativas para o futuro.
Com demasiada frequência, visões materialistas ou utilitárias, às vezes ocultas, às vezes celebradas, levam a práticas e estruturas motivadas em grande parte, ou mesmo unicamente, pelo interesse próprio. Isto vê tipicamente os outros como um meio para atingir um fim e implica uma falta de solidariedade e caridade, o que, por sua vez, gera uma injustiça real, enquanto um desenvolvimento humano verdadeiramente integral só pode florescer quando todos os membros da família humana estão incluídos e contribuem para, na busca pelo bem comum. Na busca de progresso genuíno, não devemos esquecer que pisar a dignidade de outra pessoa é de facto enfraquecer o seu próprio valor.
Na minha Carta Encíclica Laudato Si ', chamei a atenção para a importância de uma "ecologia integral" que tem em conta todas as implicações da complexidade e da interconexão da nossa casa comum. Essa abordagem ética renovada e integrada exige "um humanismo capaz de reunir os diferentes campos do conhecimento, inclusive a economia, ao serviço de uma visão mais integral e integradora" (ibid., 141).
Ao reconhecer as conquistas dos últimos cinquenta anos, espero que os participantes do Fórum de hoje e os que serão realizados no futuro tenham em mente a alta responsabilidade moral que cada um de nós tem em procurar o desenvolvimento integral de todos os nossos irmãos e irmãs, incluindo os das gerações futuras. Que as vossas deliberações levem a um crescimento da solidariedade, especialmente para com os mais necessitados, que experimentam a injustiça social e económica e cuja própria existência está ameaçada.
Para aqueles que participam do Fórum, renovo os meus votos de oração para uma reunião proveitosa e invoco sobre todos vós as bênçãos da sabedoria de Deus.
Do Vaticano, 15 de janeiro de 2020
Tradução Educris a partir do original em inglês
21.01.2020