Vaticano: Papa lembra "duas tentações" na festa da Santa Cruz

Na manhã de quinta-feira, o Papa Francisco voltou a celebrar a eucaristia na capela de Santa Marta, no Vaticano. Na sua meditação matutina, na festa da exaltação da Santa Cruz, o Papa lembrou que Jesus não é um simples “mestre espiritual que dá bons conselhos” ou transmite “um pouco de consolação” e afirmou que segui-lo não significa abandonar-se a “um masoquismo espiritual sem esperança, como se se fosse protagonista de uma tragédia pagã”:

“Na oração, dissemos que a cruz é um mistério de amor, um mistério que só pode ser entendido se brotar do coração e do amor”, sustentou o Papa.

Referindo-se à oração da coleta proposta pela liturgia o Papa observou que “quando se refere à cruz, vê-a como uma árvore e diz: «É uma árvore nobre, é uma árvore fiel». Assim «este é o mistério de amor: a nobreza de Jesus Cristo, a fidelidade do amor de Deus”.

Apenas "este é o mistério do amor: a nobreza do amor de Jesus Cristo, a fidelidade do amor de Deus".

Neste ponto o Papa advertiu aos fiéis: “nem sempre é fácil entender a cruz, porque só com a contemplação se progride neste mistério de amor":

“Este é o mistério do amor: Jesus desceu do céu para nos levar todos para o céu: este é o mistério da cruz”.

Refletindo, em seguida, sobre a carta de São Paulo a Filemon o Papa explicou o movimento “descendente de Jesus”:

“Paulo explica este sair e este descer de jesus; sobre a descida de Jesus o apóstolo afirma «Ele esvaziou-se assumindo uma condição de servo, tornando-se como os homens. Ele humilhou-se tornando-se obediente até a morte e morte de cruz». Esta é a descida de Jesus: para baixo, até à humilhação, esvaziando-se de si até à humilhação, por amor. Deus o exaltou e o fez subir”.

Para o Papa é fundamental perceber esta “descida de de jesus até ao fim2 para “podermos entender a salvação que este mistério de amor nos oferece”.

Francisco sustentou que tal compreensão do mistério “nem sempre é fácil” pois todos “corremos a tentação de ficar pela metade”, e voltou a recorrer ao texto bíblico, à carta de São Paulo aos Gálatas, para explicar o que ocorre quando apenas queremos a salvação pela metade:

“Paulo tem para com os Gálatas uma palavra forte - «ó Gálatas estúpidos - quando vos deixastes seduzir pela tentação de não entrar no mistério de amor» Paulo fala com eles, «ó Gálatas estúpidos, quem vos seduziu? Como a serpente havia encantado Eva, como a serpente no deserto tinha envenenado os israelitas. Quem te encantou, a quem Jesus Cristo foi apresentado crucificado?». (Gl 3, ss)

Para o Papa “os Gálatas ficaram encantados com uma ilusão de Cristo sem cruz ou uma cruz sem Cristo. Estas são as duas tentações: um Cristo sem uma cruz, isto é, um mestre espiritual que me mantém calmo, não existe sofrimento ou pelo menos escapas do sofrimento e segues”. Mas "um Cristo sem uma cruz que não é o Senhor: é um mestre, nada mais. E talvez isso, sem saber, fosse o que procurava Nicodemos”.

A segunda tentação, sustentou o Papa “é a cruz sem Cristo. Com o peso do pecado mas sem a esperança. É uma espécie de masoquismo espiritual. Só a cruz, sem a esperança, sem Cristo. É um mistério trágico não? Poderemos pensar nas tragédias pagãs. Mas a cruz é um mistério de amor, a cris é fiel, a cruz é nobre”.

Na penúltima parte da sua meditação Francisco convidou os fiéis a um “silencioso exame de consciência”:

“Hoje poderemos demorar-nos alguns minutos. Perguntemo-nos: Cristo crucificado é para mim um mistério de amor? Sigo Jesus sem cruz, como um mestre espiritual cheio de consolação e bom conselho? Sigo a cruz sem Jesus, lamentando-me sempre com “o masoquismo do espirito? Deixo-me envolver por este mistério de abaixamento, esvaziamento total do Senhor?".

 No final o Papa rezou: “que o Senhor nos dê a graça, não digo de compreender, mas entrar, entrar, - com o coração, com a mente, com o corpo, com tudo, entenderemos alguma coisa - neste mistério de amor”.

Educris com L'Osservatore Romano



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