1. Com a Carta Apostólica Aperuit Illis [«Abriu-lhes o entendimento para compreenderem as Escrituras» (Lc 24,45)], sob a forma de Motu proprio, datada de 30 de setembro de 2019, memória litúrgica de São Jerónimo, e abertura da celebração do 1600.º aniversário da sua morte (30 de setembro do ano 420), O Papa Francisco instituiu o Domingo da Palavra de Deus, a celebrar anualmente no Domingo III do Tempo Comum.
2. Oportunidade para toda a Igreja se debruçar com veneração sobre a Palavra de Deus, que deve escutar com amor e diligência, e da mesma maneira viver e anunciar, dado que a Palavra de Deus constitui para o cristão alimento indispensável. S. Jerónimo dedicou-lhe toda a sua vida e atenção. Aqui deixo, pois, um extrato significativo dos seus Comentários ao Salmo 147, que pode ser para nós inspirador, sobretudo neste tempo em que, devido ao necessário confinamento, não nos podemos abeirar sacramentalmente da Comunhão do Corpo e do Sangue de Cristo. Mas podemos debruçar-nos sobre a Escritura Santa que, como diz bem S. Jerónimo neste texto notável, é também Corpo e Sangue de Cristo. Prestemos-lhe atenção:
3. «Lemos as Sagradas Escrituras. Eu penso que o Evangelho é o Corpo de Cristo; penso que as Santas Escrituras são o seu ensinamento. E quando Ele fala em “comer a minha carne e beber o meu sangue” (João 6,53), embora estas palavras se possam entender do Mistério [eucarístico], todavia também a palavra da Escritura, o ensinamento de Deus, é verdadeiramente o corpo de Cristo e o seu sangue. Quando vamos receber o Mistério [eucarístico], se cair uma migalha sentimo-nos perdidos. E, quando estamos a escutar a Palavra de Deus e nos é derramada nos ouvidos a Palavra de Deus que é carne de Cristo e seu sangue, se nos distrairmos com outra coisa, não incorremos em grande perigo?».
António Couto
Nota: Vê-se que há quem discorde do notável texto apresentado. É triste haver quem não entenda a realidade sacramental da Escritura. Lembro que o texto faz parte do magistério da Igreja, pois aparece citado no n.º 56 da Exortação Apostólica Verbum Domini, de 30 de setembro de 2010 (Bento XVI).