Educação/racismo: «Um apregoado patriotismo estúpido e alarve», Acúrcio Domingos

Várias escolas da região de Lisboa acordaram, esta sexta-feira, com frases de cariz racista e discriminatório

A aula de Educação Moral e Religiosa Católica, do agrupamento de Escolas Eça de Queirós, em Lisboa, ajudou à reflexão e à resposta dos próprios alunos daquela instituição de ensino aos grafites colocados “na calada da noite” por um grupo “de ignorantes que gostariam de prolongar as trevas”.

“Uma parte dos muros estava eivada de ódio, dissimulado entre frases ‘chave’ de um apregoado patriotismo estúpido e alarve, mas sem sentido ou cabimento”, descreveu o professor Acúrcio Domingos numa publicação partilhada hoje pelo Agrupamento de Escolas Eça de Queirós no Facebook.

No ‘post’ o docente de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), reconhecido por ser “um verdadeiro pedagogo” com o descreve Rita Ribeiro, antiga aluna naquela escola, descreve o “incomodo” provocado pelas frases.

“Na aula o incomodo veio à baila e logo ali se desenhou um ataque solidário à investida racista, alinhavando-se, entre outras ideias, a disponibilidade dos alunos para ajudarem a tapar ‘a vergonha’, estampada na entrada da ‘nossa casa’”.

No final do dia vários foram os alunos que puseram “mãos á obra” para “tapar as frases cheias de ridículo”.

“A imagem [dos alunos a pintar os muros] é fortemente redentora: preserva o património universal dos que habitam a escola e aprenderam que a herança multicultural é a resposta a oferecer. Uma escola com alunos destes, vale a pena e garante futuro”, completa o docente.

Atitude cobarde que não tem lugar na Escola

Também João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação, reagiu na sua página pessoal no Facebook e considerou que este fenómeno, repetido também na escola António Damásio, em Lisboa, não pode “ter lugar em 2020”.

“Não podemos calar nem aceitar que alguém escreva isto. Queremos escolas com todas as cores, porque o arco-íris é mais bonito do que a cal do muro do cemitério do saber ou do que o escuro da caverna. Porque a paleta do pintor tem lá as cores todas e produz espanto e beleza. Se a tela ficar branca, é pobre, não tem valor”, apontou indignado.

O responsável político convida o autor “regressar à escola, estuda e vais ver que a cobardia, a estupidez e a fraqueza vão deixar de dominar as tuas ações”.

UCP alvo de vandalismo

Também a Universidade Católica Portuguesa, na Palma de Cima, em Lisboa, foi alvo de uma ação de vandalismo. Ao início da tarde a reação veio deforma oficial através de Isabel Capeloa Gil, a reitora da instituição.

“A universidade rejeita este ato, que atenta contra os princípios basilares do que a universidade enquanto espaço de abertura e diálogo representa e reafirma que continuará, firmemente, a desenvolver a sua ação educativa assente no respeito pela dignidade da pessoa, nos valores da liberdade e do diálogo, rejeitando qualquer forma de discriminação social, de raça ou sexo, e pugnando sempre pela inclusão e coesão sociais em prol do bem comum da sociedade”.

Esta não é a primeira vez que várias escolas de Lisboa são alvo de dizeres discriminatórios e racistas neste ano civil.

Educris|31.10.2020

Imagem: Agrupamento de Escolas Eça de Queirós



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