Educação (c/áudio): O lugar da EMRC na mudança de paradigma escolar
Professores do Algarves, Beja e Évora em formação interdiocesana
Trinta e cinco docentes de EMRC das dioceses do Algarve e Beja e da Arquidiocese de Évora estiveram, no passado fim de semana, em formação sobre o tema «EMRC e flexibilidade curricular» sob a orientação da docente Manuela Barreiros.
Ao Educris a especialista afirmou o “desafio que representa a mudança de paradigma proposta pelos decretos lei 54 e 55 e o novo «Perfil do Aluno para o Século XXI» na ação das escolas:
“Este perfil do Ministério da Educação propõe uma mudança de paradigma e um olhar sobre o futuro da escola e dos alunos. A grande verdade é que o mundo de hoje é distinto do passado e isso obriga a uma definição de um novo perfil que, a diversos níveis, prepare as novas gerações para o mundo futuro”.
Para a docente o “Ministério da Educação”, com a atual legislação, percebeu “que não se pode apenas avaliar os conhecimentos de cada disciplina, estanques e desenquadrados da realidade”, mas é vital “avaliar isso em ação, a tal competência, enquadrados por comportamentos, atitudes e interação social”.
“Se olharmos para os valores e os princípios do Perfil do Aluno para o século XXI, tem, sem modéstias, a ‘nossa cara’. Em EMRC já o fazíamos e agora, de uma maneira muito clara, temos toda a Escola a fazê-lo. O grande desafio é fazer perceber aos outros professores que o docente de EMRC está na escola e pode, pela sua competência académica, ajudar muito a escola neste caminho”.
Uma abertura à inovação e à mudança
“Podemos dizer, neste ponto, que a Igreja já o tinha percebido há muito tempo com a introdução e o objeto da própria EMRC”.
A mudança preconizada para a escola nacional “não é isolada nem única” e faz parte de um movimento europeu como “resposta ao consumismo e materialismo que estamos a assistir”:
“Temos que mudar para podermos ter melhores alunos hoje e melhores cidadãos no amanhã”, sustentou.
Consciente “dos insucessos de outros modelos testados anteriormente” Manuela Barreiros pede a “leitura integral dos documentos para vencer resistências naturais”.
“A maior parte do corpo docente em Portugal tem uma faixa etária elevada e isso faz com que estejamos acostumados a um modo de fazer, de estar e de ser. A mudança implica querer arriscar com novos métodos e com novas propostas. No país inteiro existem muitas e boas propostas, nomeadamente em EMRC, mas falta divulgar para que outros conheçam e possam melhorar as suas práticas”.
Os medos da perda de identidade nas disciplinas
Em algumas escolas onde o modelo de flexibilidade curricular está já a ser implementado existem docentes que “temem ver desaparecer a sua disciplina”. Para Manuela Barreiros é importante perceber que a “flexibilidade curricular não leva ao desaparecimento das disciplinas”, mas que se devem percecionar “os domínios da autonomia curricular”.
“Talvez isto seja a maior dificuldade das pessoas na receção dos documentos. Este modelo não periga nem as disciplinas, nem as cargas horárias e, ainda menos, a sua especificidade. Todos os projetos ajudam as disciplinas a agregarem-se e a aprenderem a trabalhar colaborativamente de modo a que constem aí as competências transversais. O domínio da autonomia curricular permite ao conselho de turma trabalhar mais vezes em conjunto com o contributo do específico das disciplinas procurando colocar o aluno a procurar as respostas, a investigar, a refletir e não apenas a rececionar”.
As aprendizagens essenciais: Os desafios à EMRC
O Ministério da Educação apresentou, no final do ano passado, as Aprendizagens Essenciais das diversas disciplinas. Também a Igreja, através da equipa nacional da EMRC, preparou um documento para cada ano de ensino.
Manuela Barreiros lembrou que no “especifico da disciplina, por ser de oferta obrigatória e de frequência facultativa” vai ser preciso “um trabalho de verdadeira ginástica dos docentes para conseguirem, anualmente, garantir que as aprendizagens essenciais foram adquiridas”:
“No fundo é fazer o que já fazíamos em muitas realidades onde, na planificação, tínhamos que precaver alunos de mais do que um ano. O desafio é que o professor faça a gestão do currículo de modo alargado consciente de um trabalho mais regular e de uma planificação que foque o essencial de cada ano”.