Formação: A aula deve ser lugar de «reconciliação»

Sociólogo Eduardo Duque apresentou importância do encontro e de uma disciplina que reconcilie, que integre, proponha, e faça nascer.

No final da manhã deste sábado o professor da Universidade Católica Portuguesa (UCP), núcleo de Braga, trouxe aos docentes de EMRC o tema «O “jovem” perante o facto religioso».

Fazendo uma análise a partir da atualidade “de modo a tomarmos consciência de quem é este jovem que se apresenta à nossa frente no ensino secundário”, o sociólogo caracterizou o presente como “um tempo rápido, desfragmentado, sem passado e com pouco futuro”:

“Hoje o presente não tem uma ligação à memória, ao passado: Vivemos um mundo de incerteza com claras influências nas novas gerações. Que futuro vislumbram as novas gerações?”, questionou.

“O aluno que eu tenho à frente nada tem a ver com a conceção de aluno que eu fui e experienciei na minha humanidade. Se eu, como professor, não tiver consciência disto não sei como funcionar com aquele humano que se coloca defronte de mim. O mundo é profundamente outro”, sustentou.

Da Mundividência religiosa e Teocêntrica ao politeísmo de valores

O docente fez, em seguida, uma resenha histórica do entendimento da religião e da passagem de uma cosmovisão religiosa da vida até ao processo de racionalização assente nas várias ciências e na especialização que Weber afirma como “a diferenciação que leva a duas coisas: predomínio do raciocínio técnico e a proliferação das esferas de valor”, e que “levaram à própria desvalorização do valor enquanto fator unificador da sociedade e provocaram no Humano um processo de desencantamento do mundo”:

“Hoje, o sujeito autonomizou-se. Pensa, reflete e vive como se já não precisasse do outro. As amizades alimentam-se enquanto eu preciso do outro. Isto leva à instrumentalização do outro e ao olhar o outro enquanto instrumento ao meu serviço”, denunciou.

Assim a “ciência que nos pareceu, durante os últimos séculos, ser capaz de solucionar todas as questões mostrou-se solução para a tecnologização do presente mas não foi capaz de resolver o drama do interior humano e assim chegamos ao fim da história, da vida, e de uma narrativa. Perdemos o sentido e abre-se a possibilidade do politeísmo de valores”.

Num mundo fragmentado num politeísmo de valores Eduardo Duque considerou fundamental começar por percecionar “que os alunos que temos diante de nós, multitasking, conciliam toda esta fragmentação e politeísmo de valores e consideram tudo como bem e belo”:

“Neste presente pós moderno aparecem novos movimentos religiosos, distintos grupos de pertença formal e uma religião subjetiva, fragmentada e individualizada”.

Deste modo, sustentou, é preciso “ter muito cuidado perante o que temos à nossa frente. Antes de ensinar seja o que for temos que saber quem temos à frente. Hoje as pessoas já não estão para ‘muito conversa’ que depois ‘não aquece’ mas necessitam sentir que o docente olha individualmente para cada um”.

Programa é importante mas…

Na parte final da sua intervenção o sociólogo apresentou propostas para caminhar com os jovens nas aulas de EMRC e aconselhou os docentes a “fugirem do tapete que nos apressa sem sairmos do lugar:

“Dar a aula a correr não funciona. O programa é grande e muito importante mas o fundamental, para início, é a relação afetiva. Gastar tempo, ir ao fundo e esperar que cure interiormente o outro”.

Assim torna-se necessária “uma EMRC que reconcilie, que integre” a partir de uma “religião que proponha, que faça nascer, e que seja criativa”:

“Não podemos correr o risco de voltar ao iluminismo onde parecia que a Igreja e a Sociedade eram caminhos distintos e que se autoexcluíam”.

No final deixou um conselho:

“Que as nossas aulas sejam aulas de reconciliação. Um momento de amor!”

Educris|17.02.2018



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